quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Vamos ajudar os jovens? A história de uma vivência.

Continuação da postagem anterior.... Os meus filhos tiveram a sorte de ter duas avós inteligentes, cultas, carinhosas e bondosas, de mentalidade muito aberta e amplos horizontes. Sempre que eu precisava e verificava a possibilidade, deixava meus filhos com uma das avós. Uma dessas vezes, deixei minha filha, de 13 ou 14 anos, passando umas férias com a minha mãe, sua avó materna. Ao voltar para casa, perguntei à filha se havia gostado de ter passado tanto tempo com a avó. Pelas respostas notei que a menina havia gostado muito e perguntei-lhe o que havia feito de tão bom. Com a sinceridade que lhe era peculiar, descreveu-me as conversas, os passeios, as brincadeiras e as tarefas que haviam realizado. Nada de tão diferente, mas, fiquei admirada porque tinham conversado sobre temas que, frequentemente, duas gerações diferentes não se entendem muito bem. Minha mãe sempre tinha defendido, com rigor, as atitudes e comportamentos convencionais e fundamentados na teologia cristã. Ela, não só era religiosa como praticante e defendia a moral e os rituais religiosos. Com a neta havia conversado sobre namorados, relacionamentos amorosos, filhos, casamento, sexo e similares. Pelo que ouvi, as conversas tinham sido tão bem conduzidas que a neta ficou encantada e com as melhores lembranças da Vovó. “Vovó é muito inteligente” disse-me ela. Fiquei muito surpreendida e curiosa. Eu não conseguia compreender como a minha mãe, com sua mentalidade e sua muita idade, à volta dos 70 anos, tinha conversado de forma agradável, com uma garota moderna, que vivia num mundo diferente do dela, com ideias da sua geração e pouca influência religiosa, sobre temas tão delicados e tão difíceis para serem debatidos por duas gerações tão distantes. Pensei, imediatamente, que ali residia uma importante lição para mim e para meu futuro como avó. Realmente, recebi uma grande e bonita lição. A minha mãe explicou-me o sucesso da interação neta e avó da forma seguinte. Quando ela, como avó, conversava com a neta (a quem amava muito) tentava despir-se de suas ideias pessoais e valores e tentava, para poder compreendê-la, entrar na mentalidade da garota, suas concepções, seus valores, suas experiências, suas atitudes. Tentava não julgar, apenas compreender. Ela era uma pessoa e a neta era outra que, sendo muito diferentes, podiam entender-se perfeitamente, se houvesse respeito. Entre as duas, deveria ser a mais velha e experiente a tomar a dianteira para compreender a mais nova. Acrescentou que conseguiu captar a seriedade da neta, a maturidade de suas ideias e de seus comportamentos, a honestidade de suas palavras, o respeito e a responsabilidade em relação às demais pessoas, o que a deixou muito feliz. “Gostei muito de conversar com ela”, acrescentou. Compreendi imediatamente que a minha mãe estava me demonstrando como respeitar e conviver com os jovens. Nesse dia eu fiquei mais sábia!

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Vamos ajudar os jovens? Algumas outras dicas.

Continuação da postagem anterior.... Em geral, uma boa explicação é suficiente, mas há atitudes nossas difíceis de explicar; eles só as vão compreender quando chegarem à nossa idade e terem uma vivência da própria condição de velho. As inúmeras experiências dolorosas e desagradáveis nos marcaram profundamente e originam atitudes que os jovens não compreendem, como por exemplo, as nossas desconfianças, os nossos medos e inseguranças e as recusas em enfrentar alguns desafios. O nosso corpo já não é confiável, os nossos órgãos dos sentidos não estão tão alertas, o nosso cérebro está mais lento, as nossas funções orgânicas não respondem com a rapidez e precisão da juventude. Estamos sempre com mudanças inesperadas em nós mesmos. Todos os dias encontramos alterações e novidades, nem sempre agradáveis, nem sempre fáceis de contornar e nem sempre bem compreendidas por nós. Calar, às vezes, é o mais sábio. Produz menos reações negativas, origina menos incompreensões e ocasiona menos tumulto. Se nós não compreendemos, como fazer o outro compreender? Ensine os jovens a ensiná-lo. Primeiro, você, idoso, tem que colocar de lado o seu medo do “não saber”, a vergonha de assumir sua ignorância e a timidez para pedir ajuda para aprender. Depois, deixe-o começar a ensiná-lo, devagarzinho informe-o do que quer, quais os detalhes mais importantes, anote o passo a passo e peça-lhe paciência. Diga-lhes que, para o idoso, a impaciência funciona como agressividade. A sua paciência também pode abrir muitas portas. Uma dica importante, elogie-os quando acertam e mostre-lhes que está aprendendo; reconheça o esforço deles. Não esqueça que alguns jovens também têm dificuldade em ensinar; nem todos são professores natos. Por último, mas não menos importante, é a sua atitude frente às incompreensões ou interpretações incorretas deles. A primeira atitude desejável é ouvi-los com atenção; não se perturbar porque não foi aquilo que você quis dizer ou não foi essa a sua intenção; não reaja antes de compreender o que eles sentiram. Não diga nada se não tiver compreendido bem. Mais tarde, “quando a poeira tiver baixado” converse com calma. Há algumas explicações que você pode usar, como: são vícios de avós, são hábitos muito arraigados, são produtos da nossa ignorância e outros do mesmo estilo. Eles entenderão muito bem e farão as pazes com facilidade. Desejo que todos os jovens de hoje, sejam os velhos de amanhã e que sejam mais sábios porque os velhos de hoje os ensinaram. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Vamos ajudar os jovens? Como podemos fazer isso?

Continuação da postagem anterior... Será que um bom relacionamento com nossos filhos, alunos e jovens amigos tem impacto na nossa saúde? A minha experiência informa-me que é imprescindível ao meu bem-estar. Eles nos informam sobre como se vive melhor no novo mundo, pouco conhecido para nós. Ajudam-nos a adaptar a ele e a adquirir e desenvolver as habilidades necessárias para conviver com as novas gerações, os novos costumes e as novas formas de fazer as coisas. Conheço idosos que se afastam do que gostam por não poderem se adaptar, resmungam e reclamam porque as coisas são diferentes, sofrem com problemas evitáveis porque não adotam maneiras alternativas de viver e são infelizes e solitários porque se recusam a mudar. Não podemos esquecer que o mundo é como é e a nossa postura não vai mudá-lo. O melhor é adotarmos novas formas de viver e aprender novas habilidades. Faz bem para o nosso cérebro, para a nossa vida e o mundo nos parecerá mais positivo. Dá saúde conviver com os jovens. Conviver com as novas gerações passou a ser “meu desejo de consumo”. Acho isso muito saudável e alegre. Como podemos ajudar os jovens a compreender-nos melhor? Uma das primeiras atitudes é explicar aos jovens os motivos que nos levam a pedir ou fazer coisas que eles não compreendem e mostrar-lhes os aspectos da nossa vida que nos fazem ser diferentes. Meu filho, há algum tempo, mostrou-me que não concordava com algumas atitudes minhas em relação ao gerenciamento do meu patrimônio. Ele achava que eu estava perdendo dinheiro com o tempo que demorava a tomar as iniciativas e sugeria outras formas mais eficientes de atuar. Concordei com ele e disse-lhe que eu já havia percebido isso e que gostaria de atuar com mais rapidez. Mas, expliquei-lhe como estava a minha vida com o aumento da minha idade. Disse-lhe assim: “Na verdade, não estou conseguindo dar conta de todas as tarefas necessárias para tal e não estou conseguindo muita ajuda. Com a pandemia e a perda do meu emprego, deixei de ter empregada e tive que assumir todas as atividades domésticas (cozinhar, fazer supermercado, lavar e passar roupa, arrumar a casa, controlar contas no banco, fazer pagamentos, fazer compras necessárias e outras). A minha idade também me consome mais tempo com a academia de ginástica, caminhadas e outros exercícios, mais consultas médicas, exames clínicos mais frequentes e mais controles de medicação. Também não posso deixar de manter os contatos familiares, as reuniões de amigos aqui em casa e fora de casa, manter atividades desafiantes para meu cérebro, como ler, fazer pesquisas bibliográficas, estudar e criar textos para o meu blog, manter a correspondência em dia, divulgar o blog, cuidar de algumas plantas e outras. Já estou com algumas limitações de visão e audição que gerencio e exigem cuidados com os aparelhos, baterias e óculos especiais. Tudo isso exige tempo. Este panorama não me assusta e nem me tira a alegria de viver, mas exige um bom planejamento e a definição das atividades prioritárias e das secundárias. Para manter um ritmo de vida saudável sou obrigada a deixar de lado ou atrasar algumas tarefas e aquelas ligadas à gestão do patrimônio acabam ficando mais abandonadas. Esse retrato da minha vida cotidiana é novo para mim, e obriga-me a levar mais tempo para refletir e tomar decisões. Gosto de trocar impressões com vocês, meus filhos, porque seus questionamentos fazem-me pensar, tornar a raciocinar e resolver problemas. Isso obriga-me a renovar o planejamento, o que beneficia a minha vida”. Continua na próxima postagem

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Vamos ajudar os jovens? Eles não podem entender os idosos.

Hoje, meus filhos são os meus melhores amigos, meus confidentes, minha rede de apoio e meus principais assessores e conselheiros. Ambos herdaram muito da minha genética, mas são muito diferentes de mim. Essas diferenças, em grande parte, originam-se na diferença de idades e de estágios de nossas vidas e dos mundos em que vivemos e fomos criados. Enquanto eu já passei pelas etapas de vida que eles, agora, estão passando, eles nunca passaram pelo meu atual estágio. Além disso, eles só acumularam experiências durante cerca de 50 anos, enquanto eu acumulo vivências de 80 anos, em mundos diferentes. Por tudo isso, como eles, mais jovens, podem entender os mais velhos? Para os mais jovens deve ser muito difícil lidar com idosos, cujo mundo é quase totalmente desconhecido para eles. E não falta esforço da parte dos filhos! Há uns dias atrás escutei do meu filho “eu não entendi porquê, mas fiz exatamente o que ela pediu”, referindo-se à madrasta que tem 70 anos. E, com frequência, dizem-me “nunca tinha pensado nisso” ou “você diz exatamente o que você precisa que eu a ajudo” ou “acho estranho fazer desse jeito” quando lhes explico algum sentimento ou atitude ou peço um auxílio. Quando refletimos sobre isso, também, para nós, idosos, fica mais fácil aceitar as discordâncias cotidianas, aperfeiçoar as nossas interações para sermos mais felizes, compreender o grande amor e carinho que existe em nós todos e interpretar as reações inesperadas com tranquilidade. Com os jovens aprendemos muito, atualizamo-nos, renovamos o nosso fazer e nos tornamos mais flexíveis. Não podemos esquecer que nosso relacionamento é fundamental para ambos os grupos, nós precisamos deles e eles se beneficiam muito com a nossa presença na vida deles. Os idosos podem oferecer informações valiosíssimas sobre a história de vida e de saúde para as gerações seguintes, podem lembrar os valores, tradições e rituais a serem conservados e podem ajudar a tomar decisões colocando sua experiência em prática. Além de tudo isso, é mais uma fonte de amor, carinho e cuidado no ambiente da família. Eu tive muito contato com meus antepassados porque sou oriunda de família muito longeva; só aos 16 anos perdi as últimas duas bisavós e aos 70 perdi minha mãe. A presença e o contato com eles durante tanto tempo, foram essenciais na minha vida; ensinaram-me e ajudaram-me muito. Essa situação permitiu-me conhecer minha história com maior profundidade e tirar partido de saber o que sou e porque sou, o que é fundamental para a minha saúde, para a minha personalidade e para a minha segurança como pessoa. Com mais facilidade criamos respeito por nós mesmos. Assim, eu tive condições mais favoráveis de gostar do que sou e assumir a minha maneira de ser. Continua na próxima postagem