quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Vamos ajudar os jovens? Eles não podem entender os idosos.

Hoje, meus filhos são os meus melhores amigos, meus confidentes, minha rede de apoio e meus principais assessores e conselheiros. Ambos herdaram muito da minha genética, mas são muito diferentes de mim. Essas diferenças, em grande parte, originam-se na diferença de idades e de estágios de nossas vidas e dos mundos em que vivemos e fomos criados. Enquanto eu já passei pelas etapas de vida que eles, agora, estão passando, eles nunca passaram pelo meu atual estágio. Além disso, eles só acumularam experiências durante cerca de 50 anos, enquanto eu acumulo vivências de 80 anos, em mundos diferentes. Por tudo isso, como eles, mais jovens, podem entender os mais velhos? Para os mais jovens deve ser muito difícil lidar com idosos, cujo mundo é quase totalmente desconhecido para eles. E não falta esforço da parte dos filhos! Há uns dias atrás escutei do meu filho “eu não entendi porquê, mas fiz exatamente o que ela pediu”, referindo-se à madrasta que tem 70 anos. E, com frequência, dizem-me “nunca tinha pensado nisso” ou “você diz exatamente o que você precisa que eu a ajudo” ou “acho estranho fazer desse jeito” quando lhes explico algum sentimento ou atitude ou peço um auxílio. Quando refletimos sobre isso, também, para nós, idosos, fica mais fácil aceitar as discordâncias cotidianas, aperfeiçoar as nossas interações para sermos mais felizes, compreender o grande amor e carinho que existe em nós todos e interpretar as reações inesperadas com tranquilidade. Com os jovens aprendemos muito, atualizamo-nos, renovamos o nosso fazer e nos tornamos mais flexíveis. Não podemos esquecer que nosso relacionamento é fundamental para ambos os grupos, nós precisamos deles e eles se beneficiam muito com a nossa presença na vida deles. Os idosos podem oferecer informações valiosíssimas sobre a história de vida e de saúde para as gerações seguintes, podem lembrar os valores, tradições e rituais a serem conservados e podem ajudar a tomar decisões colocando sua experiência em prática. Além de tudo isso, é mais uma fonte de amor, carinho e cuidado no ambiente da família. Eu tive muito contato com meus antepassados porque sou oriunda de família muito longeva; só aos 16 anos perdi as últimas duas bisavós e aos 70 perdi minha mãe. A presença e o contato com eles durante tanto tempo, foram essenciais na minha vida; ensinaram-me e ajudaram-me muito. Essa situação permitiu-me conhecer minha história com maior profundidade e tirar partido de saber o que sou e porque sou, o que é fundamental para a minha saúde, para a minha personalidade e para a minha segurança como pessoa. Com mais facilidade criamos respeito por nós mesmos. Assim, eu tive condições mais favoráveis de gostar do que sou e assumir a minha maneira de ser. Continua na próxima postagem