quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

BOAS FESTAS

Um sincero agradecimento a todos os meus leitores

Princípios gerais para iluminar uma decisão (II)


Candelabros de estanho, do Séc XVIII, portugueses, sobre toalha de linho bordado a seda, estilo Castelo Branco, do Séc XIX.

Continuação da postagem anterior...
Estamos sempre a tomar decisões e quando optamos por uma, perdemos as demais alternativas. Às vezes a perda é dolorida e a angústia da dúvida também dói. Os princípios gerais ajudam a acertar mais vezes ou a corrigir mais depressa.
Já falamos da unicidade do nosso ser, da integração dele com o seu contexto e das alterações constantes desse conjunto. Mas podemos continuar esta reflexão com outras características.
Uma particularidade importante do ser humano é que cada indivíduo é único; não há dois iguais. A herança genética que explica cerca de 40% da nossa maneira de ser é única e as vivências e experiências não se repetem. Os comportamentos e reações de hoje são moldados por tudo que nos aconteceu, sentimos, vimos e vivenciamos. Portanto, não podemos desejar ser saudáveis com tudo aquilo que faz os demais saudáveis, não sentimos e não percebemos exatamente o que os outros sentem e percebem, não teremos sempre prazer com as mesmas coisas que dão prazer aos outros e nem sempre nos sentimos realizados com aquilo que realiza as outras pessoas. Precisamos nos conhecer e observar para termos consciência de nossas particularidades e especificidades. Temos que gostar de nós, nos respeitar e cuidar para ser autênticos e para termos sucesso quando optamos ou decidimos. O indivíduo que conhece e respeita aquilo que é, cuida-se, preserva sua identidade e integridade, almeja qualidade de vida e quer atingir um alto nível de vida saudável. Precisa desenvolver ao longo dos anos uma consciência de si próprio, mantermo-nos atentos ao que somos, ao que sentimos, ao que fazemos, ao que gostamos e por que atuamos de determinadas formas.
Foram necessários, também, muitos anos para compreender algumas coisas sobre a velhice ou a “muita idade”. O desgaste e a degeneração que dão origem ao envelhecimento têm uma cadência ou ritmo particular para cada indivíduo e há inúmeros comportamentos e atitudes pessoais capazes de acelerar ou desacelerar esse processo. Mas ele é implacável.
Uma das atitudes que pode acelerar o desgaste funcional do nosso corpo é a pessoa se auto declarar incapaz, desistir precocemente de realizar certas atividades, deixar de fazer alguma coisa porque acha que não tem mais idade ou que alguém pode não achar correto. A aposentadoria é um exemplo de estímulo para abandonar atividades que poderiam continuar a manter saudáveis determinadas funções orgânicas, incluindo as mentais. Temos que continuar a manter o controle de nossas vidas, do nosso dinheiro, da nossa independência para não perdermos, mais rapidamente, a capacidade de o fazer.
Outra atitude desaconselhável é o conformismo, o negar-se a fazer adaptações na sua vida. A vida exige muitas mudanças, exige adaptações a novas formas de viver, temos que continuar a aprender novas habilidades, a modificar rotinas e hábitos.  Temos que nos manter em constante interação com as novas gerações que, se precisam da nossa experiência, ajudam-nos a conviver com a modernidade e a desenvolver novas capacidades. Não podemos desistir, não podemos deixar de lutar, não podemos nos auto abandonar. A resiliência é a capacidade de se adaptar a novas situações, cria flexibilidade em nossas atitudes e é um dos mais importantes fatores para desacelerar nossa degradação vital. 
Finalmente, notei ao longo da vida, que o esforço e a capacidade para o fazer são próprios do ser humano desde que ele nasce. Para nascer tem que fazer força e para viver também. Em geral, as decisões sobre aquilo que nos acontece são sempre de nossa responsabilidade; dependem de opções nossas. Não adianta “colocar a sujeira debaixo do tapete”, não adianta culpar os outros pelo que vivemos, não adianta fingir que não vemos e viver na fantasia. Para solucionar os problemas reais só podemos contar com os recursos reais e a realidade do contexto.
Tudo que eu disse é óbvio e a maioria das pessoas sabe, mas, na hora de agir, esquece.

           

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Princípios gerais para iluminar uma decisão (I)

Lamparina ou lâmpada, em prata, que se acende com azeite e uma torcida. É, também, um dos maiores símbolos da Enfermagem

Foram necessários muitos anos de vida para eu perceber muitas coisas sobre mim!
Enfim, consegui ver-me de longe, obter uma visão mais geral de como sou e, acredito, que só consegui discernir tudo isso vagamente. Percebi que minhas avaliações contêm muitos erros e, portanto, devem ser provisórias e passíveis de correções. Para chegar a esse patamar, correlacionei três grandes aquisições: a maturidade que a reflexão constante me proporcionou, a experiência acumulada em 77 anos e a iluminação do conhecimento científico.
Uma das grandes características vislumbradas é que meu corpo não é uma somatória de partes, como são as máquinas, é um sistema com todas as suas partes integradas. E cada uma é vital para o sistema funcionar; se alguma delas não estiver a funcionar bem, todo o sistema será prejudicado. Esta conclusão é básica para orientar qualquer decisão sobre o cuidar do meu corpo e para guiar as minhas iniciativas a fim de manter e melhorar a minha saúde. Todos os tecidos, órgãos e segmentos do meu corpo, por minúsculos que sejam (dedinhos, unhas, dentes, etc.), se são focos de problemas, merecem a atenção e o cuidado adequado para que todo o conjunto não fique prejudicado.
Assim, uma pequena infecção deve merecer atenção, uma cárie merece tratamento rápido, uma micose exige cuidados, uma mancha roxa precisa de observação, uma saliência nova precisa de controle; qualquer alteração deve ser observada e cuidada. Não deixe que um pequeno problema se transforme em grande encrenca. As pequenas adversidades são importantes exatamente porque somos um todo muito bem integrado. Apesar de existirem muitas funções corporais com papel integrador, a circulação e a rede neurológica são os mais importantes.
Além disso, o ambiente externo, seja psicológico, seja biológico ou fisiológico, seja social ou cultural interfere no funcionamento de todo o sistema que constitui a minha pessoa. Além de eu ser um conjunto totalmente integrado dentro da minha pele, estou definitivamente vinculada ao ambiente que me cerca a curta, média e longa distância. A temperatura ambiente, a umidade do clima, a poluição do ar, o ruído externo e interno, a luz que pode nos ofuscar, aromas agradáveis e desagradáveis que chegam até nós, a música da casa ao lado, o tecido macio tocando a nossa pele, a intensidade das cores na janela e muito outros estímulos. Tudo interfere em mim e eu interfiro, com mais ou menos significado, em tudo e todos. A relação entre o indivíduo e o ambiente é constante, contínua e deixa marcas indeléveis. Eu sou o resultado disso.
Analise e avalie seu contexto com o maior rigor e procure as soluções para melhorá-lo. Sentir-se bem é fundamental para a vida saudável. Reveja seus valores, seus costumes e suas maneiras de fazer e priorize o que realmente é importante.  Não tenha dúvidas de promover mudanças quando elas puderem acrescentar benefícios à sua vida. Não tenha medo do esforço que as alterações exigem. Se precisar, peça ajuda. Os outros talvez tenham prazer em ajudar.
Outra observação básica para dirigir minhas ações sobre a minha saúde é que o meu corpo e a minha mente estão constantemente a mudar, mudam todos os segundos e todos os dias, mesmo que eu não perceba; suas células se renovam constantemente. Esta dinâmica permanente é produzida por mecanismos intrínsecos que exigem o uso constante de cada função. Isso explica porque o desuso de um órgão leva-o à degeneração e à morte. Temos que estar sempre em funcionamento para continuar a funcionar. É o uso das capacidades que mantêm a existência e a saúde das mesmas. Mas isso paga um preço significativo porque o uso constante de uma função produz desgaste e resíduos que ocasionam o envelhecimento. Mas... o envelhecimento é inerente à vida. Quem não está vivo não envelhece!!!
Continua na próxima postagem.....


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Vamos ao médico? (II)


          
Dois inaladores de porcelana, ingleses, do Séc. XIX

Continuação da postagem anterior...... 
Continuando a falar de médicos, ele, o meu médico, deve estar em condições de dar a “última palavra”, a última opinião, sobre o meu problema. No meu caso, em geral, esses médicos são aqueles que os próprios médicos procuram. Gosto de usar os médicos a quem os próprios médicos recorrem.
            E quando eu consigo encontrar esse profissional, o que ele diz passa a ser “sagrado”. Faço-lhe todas as perguntas que preciso, esclareço todas as dúvidas e procuro fazer tudo o que ele sugere. É a forma que encontrei para colocar o conhecimento médico mais moderno e acessível a serviço do meu bem-estar. O dinheiro que gasto, considero um investimento.
            A experiência ensinou-me, também, que frente a qualquer indício de problema, devo procurar informações para saber se, na realidade, é um problema que merece atenção. Dessa forma, tenho escapado de encrencas graves porque apanho a alteração no início da sua instalação. Se, em um exame aparece algum motivo de alerta, vou imediatamente procurar informações até ter certeza de qual caminho devo seguir. Já escapei de três cânceres.
            Concordo que não é fácil aceitar a fragilidade, conviver com a eterna vigilância e passar muito tempo atrás de médicos, exames e tratamentos. Mas a alternativa oposta é muito perigosa. Não posso desistir da minha integridade.
            É o dentista, o oculista, a fisioterapeuta, o fonoaudiólogo, o ginecologista, o urologista, o cardiologista, o cirurgião de pâncreas, o endocrinologista e o cirurgião vascular. Para que eu não seja “retalhada” com a visão específica de cada especialista e algum desses profissionais possa pensar no conjunto, no sistema todo, elegi um dos médicos para coordenar todos os meus dados de saúde. Vou ao cardiologista três vezes por ano e levo-lhe os exames, resultados e opiniões dos vários especialistas. Tenho certeza que ele estará atento para qualquer incompatibilidade.
            Hoje, com o desenvolvimento da Geriatria, temos acesso a médicos geriatras que reúnem o que existe de melhor, teórico e prático, e mais moderno sobre a medicina dos idosos. Quando têm uma grande experiência, são os especialistas mais indicados para cuidar do nosso “todo”, controlar os resultados dos nossos exames, compatibilizar nossas várias medicações e responder às nossas perguntas sobre o envelhecimento. Se optarmos por um clínico geral bem formado, atualizado e com boa experiência podemos, também, obter bons resultados.
 Para facilitar a minha vida, organizei um caderno com todos os nomes, contatos, datas das consultas e exames de saúde realizados e a periodicidade recomendada. Qualquer dúvida, consulto o caderninho que vai comigo em todas as viagens mais longas. Procuro estar sempre em dia com a minha saúde. Ela é o principal pilar do meu bem-estar, da minha independência e da minha autonomia.