quinta-feira, 25 de abril de 2024

Equilíbrio postural, fundamental para a mobilidade humana – Parte I

Completei 82 anos e já enfrentei alguns momentos de falhas no equilíbrio do meu corpo. Parecia que eu não controlava as posições do corpo, durante a movimentação. Cheguei a raspar a perna numa parede por não conseguir alterar sua posição durante a caminhada. Essas experiências motivaram a procura de informações confiáveis em artigos científicos, de autores reconhecidos. Apresento, aqui, a síntese do que aprendi. Para o ser humano manter-se equilibrado durante a movimentação, existe um sistema bastante sofisticado, que atua sob o controle do cerebelo, um órgão situado na parte posterior, dentro do crânio. Esse equilíbrio permite ao nosso corpo movimentar-se livremente no meio ambiente sem se atrapalhar com as instabilidades ocasionadas pela força da gravidade. Vamos explicar. Em todos os nossos ossos, músculos, pele, tendões, articulações e outros existem terminações nervosas que levam ao cerebelo milhares de informações sobre as posições, sensações e movimentos corporais e permite que esse órgão controle e mantenha o equilíbrio do nosso corpo. Essas informações são processadas pelo cerebelo quase instantaneamente. Além desse sistema, também participam desse processo a visão, a audição e o vestibular do ouvido interno, o labirinto. É um processo automático e inconsciente; não o sentimos e nem o controlamos voluntariamente. É o que nos permite andar e mexer sem cair e conhecermos onde estão todas as partes do nosso corpo, mesmo de olhos fechados. Podemos dar uma cambalhota que não perdemos a consciência da localização das várias partes corporais. Essa capacidade é chamada consciência corporal e seu desenvolvimento e bom funcionamento são imprescindíveis para a nossa movimentação. Portanto, é essencial para a nossa qualidade de vida. Além dessa sofisticada combinação o equilíbrio precisa da atuação competente dos músculos responsáveis pela mobilidade do nosso corpo. Todo esse conjunto de órgãos é responsável pelo equilíbrio estático, com o indivíduo parado, e o equilíbrio dinâmico, com o indivíduo se movimentando no meio ambiente, bem como pela consciência corporal. A cinestesia e a propriocepção são termos usados pelos cientistas para chamar a capacidade do indivíduo de perceber ou ter consciência da posição das diversas partes do seu corpo. Continua na próxima postagem…

quinta-feira, 18 de abril de 2024

A solidão como companheira da velhice. Parte III

Continuação da postagem anterior Um dia, em 1995, percebi que eu passaria a noite da passagem de ano sozinha e senti que não tinha vontade de encarar essa noite assim. Será que não haveria outras pessoas conhecidas que estivessem na mesma situação? Telefonei e encontrei três ou quatro amigos que gostariam de companhia nessa noite. Fizemos um lanche em que todos colaboraram, cantamos e ouvimos músicas conhecidas, contamos histórias e casos, contamos piadas, rimos muito de nossas aflições passadas, enfim, passamos uma noite muito boa. Aprendi a lição e a tenho repetido muitas vezes. Nós podemos manter o controle de nossas vidas durante muito tempo. É muito saudável. A primeira atitude positiva é admitir que precisamos da presença dos membros da nossa família, dos nossos amigos e das pessoas com quem temos ligações afetivas. O convívio com os elementos significativos mantém-nos alertas, motivados, autoconfiantes, com objetivos precisos, capazes de interagir e aprender, enfim, vivos. Uma pesquisa do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (Portugal) demonstrou que quem sai de casa com mais frequência e tem múltiplas relações de amizade são os que menos se queixam de solidão e avaliam melhor a qualidade de sua vida. A segunda atitude aconselhável é impedir que a timidez bloqueie nossas iniciativas; apesar de difícil, temos que perder o medo de pedir ajuda. Não podemos nos “auto mutilar”. Vale a pena tentar muitas vezes e treinar para superarmos a nossa timidez. A única forma de vencer a timidez é tentar superá-la muitas vezes. É praticar a superação. Outra “dica” que pode ajudar é treinar nossa criatividade para encontrarmos ou criarmos oportunidades de agrupar as pessoas ao nosso redor; precisamos delas e, talvez, elas de nós. Podemos organizar, entre os nossos amigos, reuniões, visitas, jantares, lanches, viagens, teatro, cinema, eventos musicais, passeios, atividades grupais como dança, canto, ginástica, jogos, trabalhos manuais e outras. Há pessoas que, naturalmente, criam vínculos e mantêm as pessoas unidas; outros têm que fazer algum esforço. Mas os benefícios que retornam mostram o enorme valor desse esforço. Finalmente, tente conhecer-se e respeitar seus gostos, seus horários e preferências. Amigos e familiares, ao ler este texto têm me presenteado com depoimentos muito interessantes. Descrevem-me suas iniciativas com o uso da criatividade e com respeito por suas preferências. Mas, quanto mais o tempo passa, mais difícil controlar essas situações. A longevidade é cara; exige um preço muito alto.

quinta-feira, 11 de abril de 2024

A solidão como companheira da velhice. Parte II

Continuação da postagem anterior Sempre ouvia falar em solidão e não sabia realmente o que sentimos quando temos solidão. É estar sozinha? Acho que não, porque até gosto de ter tempo para fazer as coisas que só podemos fazer sozinhos. O professor, historiador e filósofo, Leandro Karnal, em seu livro, O dilema do porco espinho – como encarar a solidão (Planeta do Brasil, 2018), afirma que o fato de não podermos controlar o nosso isolamento de outras pessoas é o que define a solidão. Muitas vezes preciso de alguém do meu lado e, em outros momentos, preciso de isolamento. O controle dessas duas situações é a chave que transforma o bem-estar da privacidade em solidão. Dói não ter companhia, atenção, carinho, ouvido para desabafar, uma voz para dar força, uma sensação de que somos amados ou uma presença para nos animar quando a desejamos e é desconfortável querer estar com a atenção interiorizada e alguém solicitá-la além dos nossos limites. Afinal, é a falta de liberdade e controle da nossa vida o que nos incomoda. Enquanto o ficar só é essencial à nossa maturidade, a solidão é sentida como dor, desconforto, tristeza profunda e mal estar. Mas, cada pessoa reage de forma diferente; enquanto para alguns o estar sozinho nunca é confortável, para outros passa despercebido, sem sensações pouco agradáveis. O sentimento de solidão é tão frequente que quase se torna sinônimo da velhice. Os grandes centros urbanos e a vida moderna têm reforçado muito essa triste situação. O idoso torna-se um ser sem o direito e a capacidade de controlar sua própria vida e muito menos controlar a quantidade do seu isolamento. As pesquisas ainda são muito poucas. Parece que a vida em residências ou lares para idosos não evita a sensação de solidão porque são os idosos que vivem em instituições aqueles que mais se queixam e apresentam sintomas de depressão com maior frequência. Não é a presença de qualquer pessoa que nos impede de sentir solidão. A reclamação recai sobre o afastamento das pessoas significativas ou com algum vínculo afetivo e o estreitamento do círculo social. Os velhos amigos da mesma geração têm afinidades e vivências comuns e podem proporcionar um intenso conforto social. Portanto, todos os esforços devem ser dirigidos para manter a mobilidade e podermos ir até àqueles que nos fazem falta. A interação social é preciosa para nós. Mesmo assim, vamos perdendo esses velhos e preciosos amigos. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 4 de abril de 2024

A solidão como companheira da velhice - Parte I

Se falamos de envelhecimento não podemos esquecer de falar de solidão. Com frequência são companheiras uma da outra. Muitas pesquisas têm mostrado que a solidão é muito comum na fase da “muito idade”. Os filhos criados e independentes, a distância cultural das novas gerações, a falta de ocupação decorrente da aposentadoria, a perda ou a incapacitação dos velhos amigos de sempre, a família sem a estrutura estável, as mudanças impostas pelas necessidades de auxílio e os problemas de saúde cada vez mais incapacitantes são as principais causas da solidão muitas vezes traduzida por abandono e sensação de rejeição. “Eu fui esquecido”. Ainda me lembro da minha casa quando eu tinha 38 anos. Era grande: três quartos, três banheiros, duas salas, um escritório amplo, alojamento para empregada, área de serviço espaçosa, quintal ensolarado para horta e jardim e garagem. Morávamos meu marido e eu, duas crianças – uma com 11 e outra com oito anos, e duas empregadas. Eu trabalhava meio período e gerenciava o contexto doméstico. Só conseguia estudar para o mestrado de madrugada, quando todos dormiam. Se me falassem de solidão na época eu pensava como seria bom ter algumas horas livres para pensar, refletir, assimilar minhas alegrias, conquistas e frustrações. O tempo livre era sempre escasso e eu sonhava com ele. A família cresceu, divorciei-me, as empregadas foram reduzidas, mudei-me para um apartamento em outro bairro, um dos filhos foi estudar fora da cidade, fui emprestada para outra universidade estadual por três anos e fui estudar na França com a minha filha durante dois anos. O meu mundo mudou e eu, enfim, tinha mais tempo para ficar sozinha. Gostei muito porque a liberdade para ir e vir aumentou, podia usar o meu tempo como eu quisesse, menos pessoas solicitavam minha atenção e poderia dedicar-me ao meu trabalho e às atividades de que gostava. Mas nem todos são iguais; algumas pessoas chegam a ligar televisão ou som para sentirem que estão acompanhadas e fugirem da solidão. Continua na próxima postagem...