quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Ritmo circadiano: o relógio biológico do nosso corpo - Parte I

Se estamos preocupados com a nossa saúde e em prover um ambiente saudável para melhorar o funcionamento de nossas células, temos que compreender o nosso ritmo biológico. Vejamos! Você já percebeu que todos os dias e quase às mesmas horas nós dormimos, acordamos, comemos e evacuamos? Ou seja, em todos os dias esses fenômenos se repetem constantemente. Essa constância das mudanças físicas e mentais é mantida por um relógio interno biológico que é chamado ciclo ou ritmo circadiano. O termo circadiano refere-se ao período das 24 horas. Sabe-se que esse controle está ligado aos mecanismos cósmicos, como por exemplo, a noite e o dia (ciclo sono-vigília) ou a luz e a escuridão, mas os hábitos podem influenciá-lo. Quando fazemos grandes viagens de avião, experimentamos sintomas relacionados à defasagem horária ou “jet lag”, durante alguns dias, até nos adaptarmos aos novos horários. A ciência que estuda esses fenômenos é a Cronobiologia que abrange também a regularidade de certos eventos relacionados às estações do ano e às alterações de temperatura ambiental. Essa ciência divide os seres humanos em 3 categorias: matutinos, vespertinos e indiferentes conforme sua preferência quanto ao ciclo sono-vigília. Os matutinos levantam-se cedo e trabalham melhor de manhã; os vespertinos estão mais ativos à noite e preferem dormir até mais tarde. Ainda é uma característica biológica pouco conhecida, inclusive, não se sabe a finalidade desse ciclo sob o ponto de vista biológico e não se conhece com precisão como se dá seu controle. O indivíduo adulto sofre pressões que o afastam de suas tendências biológicas de horário. O trabalho, a escola, a vida social, as rotinas diárias, os hábitos da família ou do grupo social são alguns fatores que exigem dos indivíduos uma definição de horários que, muitas vezes, não corresponde ao seu relógio biológico interno. E essa situação ocasiona muitos problemas de saúde, nem todos ainda bem conhecidos. As pessoas com trabalho noturno ou organizado sob a forma de plantões ou turnos, com variações constantes de horário, são os que mais se queixam. Também, não se conhecem muito bem as alterações no funcionamento desse relógio interno provocadas pelo envelhecimento do ser humano. Alguns estudos assinalam que os idosos tendem a dormir e a acordar mais cedo. Possivelmente, porque não sofrem as pressões dos horários impostos pela sociedade. Assim, ficam mais livres para permitir que suas atividades respeitem o seu verdadeiro horário biológico. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

A convivência com pessoas é essencial

ENTREVISTA com Amantino Ramos de Freitas, brasileiro, 81 anos, engenheiro civil, com mestrado e doutorado nos Estados Unidos. Atuou durante vinte anos como diretor da divisão de Madeiras do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). Fundador e atual vice-presidente da CPTI Tecnologia e Desenvolvimento, empresa cooperativa de ex-funcionários do IPT; ex-presidente da Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS). MRF Você escreveu um texto muito interessante sobre a importância dos bons relacionamentos na saúde, bem-estar e longevidade dos seres humanos. Por que esse assunto lhe chamou a atenção? AR de F – Tenho observado com frequência que muitos indivíduos que progridem na vida e alcançam algum prestígio e boas condições sociais e econômicas, tendem a pensar que tudo o que lhes acontece é resultado de sua inteligência e esforço e passam a acreditar que são melhores que os demais e que esse sucesso lhes garante mais privilégios e direitos. Essa “superioridade” não lhes proporciona uma verdadeira felicidade; pelo contrário, ficam frustrados com facilidade e podem se aborrecer profundamente com questões irrelevantes. Por outro lado, as pessoas que não se julgam tão importantes e que valorizam as pequenas alegrias cotidianas e os seus relacionamentos familiares, sociais e afetivos, parecem desfrutar de uma relativa felicidade. Essas observações motivaram-me a ler e a refletir sobre os fatores que influenciam e determinam a conquista da felicidade e da saúde nos seres humanos. MRFVocê, no seu texto, citou um estudo muito importante realizado pela Universidade de Harvard sobre o que proporciona uma vida feliz, saudável e longa aos seres humanos. Pode nos contar alguma coisa sobre ele? AR de F – Posso, sim. Trata-se de um estudo muito longo que foi iniciado em 1938, denominado “Estudo sobre o desenvolvimento de adultos” na Universidade de Harvard e que perdura até aos dias atuais. Esse estudo foi realizado com 724 adolescentes provenientes de duas camadas sociais diferentes: um grupo foi constituído por alunos da própria universidade filhos de famílias mais abastadas e o outro foi composto por adolescentes carentes residentes em bairros pobres de Boston. Essa população foi acompanhada por meio de questionários que incluíram questões sobre seus casamentos, satisfação no trabalho e atividades sociais. A saúde foi acompanhada por meio de exames a cada cinco anos. Cerca de 60 homens que participaram do estudo ainda estão vivos, a maioria com mais de 90 anos. Os pesquisadores agora pretendem estudar a segunda geração, mais de 2.000 descendentes dos participantes do estudo original. A ideia é identificar como as experiências da infância influenciam a saúde na meia-idade. MRF – E quais as principais conclusões a que chegou a equipe de pesquisadores? AR de F - Numa conferência, em novembro de 2015, o professor de medicina psiquiátrica dessa universidade e atual coordenador desse estudo, Robert Waldinger, afirmou que não é a fama nem o dinheiro que determina a nossa sensação de felicidade, a nossa saúde e o nosso tempo de vida e citou um estudo que mostrou que a meta principal de 80% dos jovens da atual geração é o “ficar rico”. Afirma que o estudo de Harvard mostrou que existem três fatores determinantes da felicidade, saúde e longevidade. O primeiro são as relações sociais porque “a solidão mata”. As pessoas que têm mais ligações sociais e de amizade são mais felizes, são mais saudáveis e vivem mais tempo do que aquelas que se isolam. A experiência da solidão acaba por ser tóxica. Em outras palavras, os indivíduos com mais dificuldade de estabelecer interações sociais e de amizade são menos felizes, tem a saúde deteriorada mais depressa, sua memória e funcionamento cerebral diminuem mais cedo e vivem menos tempo. O segundo fator é a qualidade das relações próximas; viver no meio de conflitos é prejudicial à saúde, enquanto conviver amistosamente protege a saúde. A qualidade dos relacionamentos é mais importante que a quantidade. Por último, o estudo provou que os seres humanos têm necessidade de conviver de forma próxima com pessoas com as quais podem contar em momentos de necessidade, sentem-se mais protegidas e seguras. Mesmo nos casos em que essas relações de proximidade tenham momentos difíceis, o fato de sentirem segurança no outro auxilia no bem-estar dos indivíduos. A conferência do Dr. Waldinger está disponível na Internet no site: https://www.ted.com/talks/robert_waldinger_what_makes_a_good_life_lessons_from_the_longest_study_on_happiness?language=pt. MRF – Na sua opinião, como esses fatores podem ser colocados em prática? AR de F – As possibilidades para se construírem boas relações são ilimitadas. Há soluções muito simples, como por exemplo, substituir o tempo gasto em frente à televisão por contatos com amigos e parentes, ou resgatar relações que esmaeceram e que podem ser recompostas. Nas horas de folga podem-se criar oportunidades de tarefas em grupo, buscar participação em trabalhos voluntários, prestar serviços a comunidades carentes, e outras iniciativas similares. Guardar rancores eternos, afastar-se de pessoas por motivos banais, manter e estimular rusgas são comportamentos que podem ter efeitos negativos para a própria saúde e bem-estar. Há mais de 100 anos, Mark Twain (1835-1910), escritor e humorista norte americano, já dizia “A vida é curta – não há tempo para discussões, desculpas, amarguras ou prestação de contas. Só há tempo para amar e, mesmo para isso, é só um instante”. Parafraseando um grande amigo e renomado enólogo: “a vida é curta para se tomar vinhos de má qualidade” ...

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Gripes? Diarreias? Lavar as mãos! - Parte III (ampliada)

Continuação da postagem anterior... Em relação ao “como”, já podemos encontrar muitos estudos produzidos pelas instituições de pesquisa e orientações originadas nos órgãos públicos nacionais e internacionais, preocupados com essa fonte de contágio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), nos últimos anos, têm divulgado várias orientações sobre como higienizar as mãos, principalmente, dirigidas para os profissionais e as instituições de saúde. A pandemia de Covid--19 estimulou o aparecimento das orientações dirigidas aos leigos. Como ainda há poucas orientações específicas para o contexto doméstico, a partir das recomendações oficiais, elaborei uma técnica simples e barata que, acredito, é eficaz, com o uso de água e sabão: - Molhe as mãos com água. - Aplique sabão em todas as superfícies das mãos. - Esfregue várias vezes as mãos, palma com palma. - Esfregue a palma de uma das mãos sobre o dorso da outra mão. Repita o movimento trocando as mãos. - Esfregue palma com palma entrelaçando os dedos para limpar todas as faces de todos os dedos. Esfregue bem ambos os polegares. Não esqueça os pulsos. - Enxágue com água. - Seque as mãos com uma toalha limpa e, com ela, feche a torneira. Também pode ser usado um rolo de papel toalha que tem a vantagem de ser descartável. Algumas recomendações práticas: - Na sua casa, mantenha sempre pias, sabonetes e toalhas limpas (ou papel toalha)prontos para uso. - Recomende aos familiares próximos, empregados e conhecidos o uso dessa estratégia. - Dê o exemplo às pessoas de sua proximidade. Pode-se, também, esfregar as mãos com gel de álcool etílico a 70% (Nota: não podem ser usadas outras porcentagens) o que produz uma boa antissepsia, seca naturalmente e é fácil de usar e transportar.

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Gripes? Diarreias? Lavar as mãos - Parte II (ampliada)

Continuação da postagem anterior... Os efeitos positivos na diminuição das infecções com a higienização das mãos não é um conhecimento novo. No Século XIX, um médico, Semmelweis, mostrou que a lavagem das mãos, antes de tocar em uma parturiente, poderia diminuir significativamente as infecções nessas mulheres e poupá-las da morte. Atualmente, inúmeras publicações científicas comprovam que essa estratégia, além de barata, é fácil de ser executada, não exige recursos sofisticados e pode ser executada na maior parte dos locais que habitamos. Também a literatura científica constata e prova que há uma relação estreita entre a higienização das mãos e a redução de infecções. Quanto maior o número de lavagens, maior é a redução das infecções. E não é só isso. A maneira de lavar as mãos pode aumentar a eficácia do procedimento. Não é só lavar, o ideal é lavar de forma eficiente. Quantas vezes, nos últimos meses, tivemos infecções respiratórias (pneumonias, gripes, resfriados, tosses), infecções gastrointestinais (diarreias, vômitos e outros), infecções urinárias, infecções de pele (dermatites, micoses, pruridos, ardores na pele) e muitas outras? Será que foram provenientes de não lavarmos as mãos em algum momento importante? Ou se agravaram por descuido nosso ou da equipe de saúde? Assim, nós, idosos, temos que adquirir o hábito extremamente saudável de lavarmos as nossas mãos. As questões mais importantes são “quando” e “como”. Para responder as questões relacionadas com o “quando” não consegui encontrar estudos científicos que respondam a estas questões, no contexto cotidiano e doméstico. Por esse motivo eu criei, para meu uso particular, umas regras relacionadas à lavagem das minhas mãos com base na minha sensatez, experiência (sou enfermeira) e conhecimento. Assim, eu tento não me esquecer de lavar as mãos: - Quando chego em casa para evitar trazer os inúmeros micróbios das minhas várias tarefas realizadas fora de casa. Em todas elas eu sei que usei as mãos, no volante e na mudança das marchas do carro, no trabalho, na academia, nas lojas, nos departamentos públicos, etc. - Antes das refeições porque, sem querer, mexemos nos talheres, no pão, no copo, no guardanapo e nos pratos. Possivelmente, coçamos os olhos, mexemos na boca ou passamos as mãos no rosto e na roupa. - Após qualquer ferimento, arranhão ou prurido. Esse cuidado dispensa, na maioria das vezes, o uso adicional de antissépticos. - Imediatamente após o uso do banheiro. - Sempre após manipular o lixo. - Antes de fazer qualquer atividade na cozinha, relacionada a alimentos. - Ao chegar a casa da minha filha porque ela tem filhos pequenos e as crianças, como os idosos, são mais frágeis e vulneráveis. Procuro sempre não mexer nas mãos e pés dos bebés porque eles adoram levar as mãos e os pés à boca. - Quando acabo a musculação na academia, fonte bastante perigosa pelo uso das mãos nos vários equipamentos já muito manuseados por outros clientes. - Quando volto da manicure onde me cortam a cutícula. Previno micoses e infecções. Continua na próxima postagem...