Registo de figura antiga de Nossa Senhora da Saúde, Séc. XX |
ENTREVISTA
com Luiz
Sinésio Silva Neto, 33 anos, graduado em Educação Física, com mestrado em
Gerontologia e doutorado em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade
de Brasília. Desde 2011, é docente da Medicina da Universidade Federal do
Tocantins, Coordena a Universidade da Maturidade e o Laboratório de Exercício
Físico e Envelhecimento Humano (uma academia para atendimento dos idosos e para
a realização de pesquisas). É Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer,
regional do Tocantins.
MRF – Com base
no seu conhecimento e na sua experiência, quais os cuidados preliminares que os
especialistas recomendam para a execução, adequada aos idosos, de um programa
de musculação?
LSSN – O mais
importante é a consciência da necessidade de individualização da prescrição do
exercício, ou seja, o exercício tem a “dose exata” para cada indivíduo de muita
idade e só pode ser prescrita após rigorosas avaliações. A academia deve exigir
um atestado médico de aptidão para realizar os exercícios e o profissional de
educação física deve preencher um formulário com todos os dados do cliente,
necessários às decisões próprias da sua área. Para tanto, esse profissional
deve ser graduado em Educação Física, ter cursado uma especialização em
gerontologia e/ou ter experiência comprovada com idosos, estar atualizado e ter
uma boa comunicação o que inclui o saber estimular o idoso a opinar e indicar
suas preferências. Note-se que a periodicidade dessas avaliações fica a
critério do médico e dos profissionais de educação física, de acordo com as
especificidades de cada caso.
Com base nas informações de saúde
obtidas, o profissional pode programar o treino considerando os objetivos do
cliente, o grau de intensidade, as cargas, os tipos de exercícios, a
frequência, os intervalos entre as séries e outras especificidades. Em geral,
os programas são progressivos, aumentando a carga e a frequência de forma
gradual. Também é importante que o cliente participe ativamente da programação,
ajudando na escolha dos parâmetros dos exercícios e na calibração das
progressões. A literatura científica recomenda realizar treinamentos, pelo
menos, 2 vezes por semana, começar com pesos mais leves e maior número de repetições
e ir aumentando os pesos e diminuindo as repetições. A duração das sessões deve
somar, aproximadamente, 150 minutos por semana.
O descanso entre as séries, na maioria das vezes, entre 1-3 minutos,
pode contribuir para uma recuperação melhor e para ganhos de força máxima.
Essa programação tem a finalidade de
ajudar todos os músculos a conservarem e a desenvolverem seu funcionamento
saudável e a variação periódica dos exercícios concorre para que um maior
número de unidades musculares seja trabalhado.
MRF – Para o
período durante o treino propriamente dito, quais as suas recomendações?
LSSN – Uma
importante recomendação é que sejam seguidas as orientações dos profissionais,
por mais simples que sejam, em todas as etapas dos exercícios. Os clientes devem
conversar com seus professores para que todas as atividades realizadas sejam
adequadas à preservação de sua saúde.
Os exercícios de alongamento devem
ser observados com rigor, nas fases iniciais e finais dos treinos uma vez que o
tecido dos músculos, dos tendões e das articulações já está mais fragilizado nos indivíduos idosos e
os alongamentos preparam esses tecidos para as tensões a que serão submetidos
durante o treino, bem como para o relaxamento final.
Sugerimos, também, que os
frequentadores da academia não comecem e terminem seus treinos sem lavar as
mãos (ou usar álcool em gel) e verificar se os aparelhos de
ginástica estão limpos. Afinal, a rotatividade de pessoas é grande e o idoso é
mais vulnerável às infecções que possam ser transmitidas por outras pessoas.
Outra
recomendação é sobre a hidratação. O Colégio Americano de Medicina do Esporte
sugere que se deve ingerir cerca de 500 ml de líquidos nas duas horas que
antecedem os treinos e, durante as sessões um pouco de líquido a cada 20
minutos aproximadamente. No entanto, é bom lembrar que não se deve exagerar e
que as quantias devem ser apenas suficientes para repor as perdas pelo suor. A
mesma fonte destaca que a necessidade de líquidos e componentes (carboidratos e
eletrólitos) depende da intensidade e duração dos treinos, das condições
climáticas externas e dentro da própria academia e estimula os clientes a
pedirem orientação aos professores.
MRF – O que o
você sugere em relação à roupa e calçado apropriados à academia?
LSSN – A meu ver, é
importante o frequentador da academia usar a roupa e o calçado que o faça
sentir-se bem. Entretanto, as roupas escolhidas devem ajustar-se ao corpo para
não correrem o risco de se prenderem em alguma parte das máquinas usadas e ter
elasticidade suficiente para não bloquear os movimentos. Os tênis devem ser de
boa qualidade e ajustados para o formato dos pés do usuário. As pesquisas têm
demonstrado que o ajuste adequado do tênis aos pés melhora a função física,
previne lesões, evita quedas e aumenta a tolerância ao exercício. Também se
aconselha a não usarem anéis e pulseiras que possam ocasionar acidentes com as
máquinas.
MRF – Para
terminar esta conversa, gostaria de pedir para nos explicar por que a fase de
repouso ou descanso é importante para se obter “ganhos de força máxima”.
LSSN – Os cuidados
pós-exercício são chamados “recuperação” e também considerados parte do treino.
Pesquisas com idosos praticantes de musculação demonstraram que a ingestão de
carboidratos e de proteínas, após o exercício, são essenciais ao
restabelecimento muscular, ou seja, para os músculos obterem força. Da mesma forma, pesquisas mostraram que o
sono é fundamental para essa obtenção da força que ocorre exatamente nos
períodos de descanso.
Como mensagem final, lembro a todos
os idosos que a vida não reconhece a inatividade.