quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

A ACADEMIA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS E OS IDOSOS

Registo de figura antiga de Nossa Senhora da Saúde, Séc. XX
 ENTREVISTA
com Luiz Sinésio Silva Neto, 33 anos, graduado em Educação Física, com mestrado em Gerontologia e doutorado em Ciências e Tecnologias em Saúde pela Universidade de Brasília. Desde 2011, é docente da Medicina da Universidade Federal do Tocantins, Coordena a Universidade da Maturidade e o Laboratório de Exercício Físico e Envelhecimento Humano (uma academia para atendimento dos idosos e para a realização de pesquisas). É Presidente da Associação Brasileira de Alzheimer, regional do Tocantins.
MRF – Com base no seu conhecimento e na sua experiência, quais os cuidados preliminares que os especialistas recomendam para a execução, adequada aos idosos, de um programa de musculação?
LSSN – O mais importante é a consciência da necessidade de individualização da prescrição do exercício, ou seja, o exercício tem a “dose exata” para cada indivíduo de muita idade e só pode ser prescrita após rigorosas avaliações. A academia deve exigir um atestado médico de aptidão para realizar os exercícios e o profissional de educação física deve preencher um formulário com todos os dados do cliente, necessários às decisões próprias da sua área. Para tanto, esse profissional deve ser graduado em Educação Física, ter cursado uma especialização em gerontologia e/ou ter experiência comprovada com idosos, estar atualizado e ter uma boa comunicação o que inclui o saber estimular o idoso a opinar e indicar suas preferências. Note-se que a periodicidade dessas avaliações fica a critério do médico e dos profissionais de educação física, de acordo com as especificidades de cada caso.
            Com base nas informações de saúde obtidas, o profissional pode programar o treino considerando os objetivos do cliente, o grau de intensidade, as cargas, os tipos de exercícios, a frequência, os intervalos entre as séries e outras especificidades. Em geral, os programas são progressivos, aumentando a carga e a frequência de forma gradual. Também é importante que o cliente participe ativamente da programação, ajudando na escolha dos parâmetros dos exercícios e na calibração das progressões. A literatura científica recomenda realizar treinamentos, pelo menos, 2 vezes por semana, começar com pesos mais leves e maior número de repetições e ir aumentando os pesos e diminuindo as repetições. A duração das sessões deve somar, aproximadamente, 150 minutos por semana.  O descanso entre as séries, na maioria das vezes, entre 1-3 minutos, pode contribuir para uma recuperação melhor e para ganhos de força máxima.
            Essa programação tem a finalidade de ajudar todos os músculos a conservarem e a desenvolverem seu funcionamento saudável e a variação periódica dos exercícios concorre para que um maior número de unidades musculares seja trabalhado.

MRF – Para o período durante o treino propriamente dito, quais as suas recomendações?
LSSN – Uma importante recomendação é que sejam seguidas as orientações dos profissionais, por mais simples que sejam, em todas as etapas dos exercícios. Os clientes devem conversar com seus professores para que todas as atividades realizadas sejam adequadas à preservação de sua saúde.
            Os exercícios de alongamento devem ser observados com rigor, nas fases iniciais e finais dos treinos uma vez que o tecido dos músculos, dos tendões e das articulações já  está mais fragilizado nos indivíduos idosos e os alongamentos preparam esses tecidos para as tensões a que serão submetidos durante o treino, bem como para o relaxamento final.
            Sugerimos, também, que os frequentadores da academia não comecem e terminem seus treinos sem lavar as mãos (ou usar álcool em gel) e verificar se os aparelhos de ginástica estão limpos. Afinal, a rotatividade de pessoas é grande e o idoso é mais vulnerável às infecções que possam ser transmitidas por outras pessoas.
            Outra recomendação é sobre a hidratação. O Colégio Americano de Medicina do Esporte sugere que se deve ingerir cerca de 500 ml de líquidos nas duas horas que antecedem os treinos e, durante as sessões um pouco de líquido a cada 20 minutos aproximadamente. No entanto, é bom lembrar que não se deve exagerar e que as quantias devem ser apenas suficientes para repor as perdas pelo suor. A mesma fonte destaca que a necessidade de líquidos e componentes (carboidratos e eletrólitos) depende da intensidade e duração dos treinos, das condições climáticas externas e dentro da própria academia e estimula os clientes a pedirem orientação aos professores.

MRF – O que o você sugere em relação à roupa e calçado apropriados à academia?
LSSN – A meu ver, é importante o frequentador da academia usar a roupa e o calçado que o faça sentir-se bem. Entretanto, as roupas escolhidas devem ajustar-se ao corpo para não correrem o risco de se prenderem em alguma parte das máquinas usadas e ter elasticidade suficiente para não bloquear os movimentos. Os tênis devem ser de boa qualidade e ajustados para o formato dos pés do usuário. As pesquisas têm demonstrado que o ajuste adequado do tênis aos pés melhora a função física, previne lesões, evita quedas e aumenta a tolerância ao exercício. Também se aconselha a não usarem anéis e pulseiras que possam ocasionar acidentes com as máquinas.

MRF – Para terminar esta conversa, gostaria de pedir para nos explicar por que a fase de repouso ou descanso é importante para se obter “ganhos de força máxima”.
LSSN – Os cuidados pós-exercício são chamados “recuperação” e também considerados parte do treino. Pesquisas com idosos praticantes de musculação demonstraram que a ingestão de carboidratos e de proteínas, após o exercício, são essenciais ao restabelecimento muscular, ou seja, para os músculos obterem força.  Da mesma forma, pesquisas mostraram que o sono é fundamental para essa obtenção da força que ocorre exatamente nos períodos de descanso.
            Como mensagem final, lembro a todos os idosos que a vida não reconhece a inatividade.