quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Uma história sobre Vacinas (II)


Para quebrar a monotonia e fugir da rotina, apresento-lhes um texto de um autor do Séc. XIX, a título de curiosidade.
 
 
 Jussieu, M de - História de Simão de Nantua ou O mercador de feiras. Traduazido por Philipe Pereira D' Araujo e Castro. Editado na Tipografia de Luiz Correia da Cunha. Lisboa. 1852.

Uma história de Simão de Nantua sobre a história das vacinas*
Capítulo XIII – Simão de Nantua faz uma proclamação sobre a história da vacina ___________________________________________________________________
Quem é Simão de Nantua? É o protagonista das histórias escritas no livro “História de Simão de Nantua” ou “O mercador de feiras”, obra a quem a Sociedade de Instrução Elementar, estabelecida em Paris, conferiu o prêmio destinado, por um anônimo que se presume ser o Duque de La Rochefoucauld, para o livro que parecesse mais conveniente à instrução moral e civil dos moradores da cidade e do campo. A primeira edição deve ter saído em 1817 ou 1818.
Esse livro foi traduzido para a língua portuguesa por Philippe Pereira D’Araújo e Castro e publicado, em Lisboa, na tipografia de Luiz Correia da Cunha, em 1852.
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­­­­            Entrando na cidadede Bar-sur-Aube, Simão de Nantua parou de repente diante de uma casa a cuja entrada estava assentada uma menina. Eu** não pude logo saber qual poderia ser o motivo da indignação que observava nos olhos do meu companheiro; mas não tardei muito a descobrir que a menina que ele examinava estava com o rosto coberto de marcas vermelhas, e adivinhei o pensamento de Simão de Nantua. Este entra e pergunta pela mãe da menina. Esta menina pertence-vos? Diz ele. – Sim, Senhor. Como é possível que havendo estabelecimentos públicos para a vacinação, espereis que venham as bexigas*** naturais ameaçar a existência de vossos filhos! Não sabeis o que é uma vacina?
Enquanto Simão de Nantua assim falava, nós ouvimos um tambor na rua. - Que é isto? Diz Simão de Nantua. “Parece que é para dar algum aviso da parte do prefeito”.
Os que iam passando paravam para ouvir o que lhes pretendia anunciar, e formavam um círculo no meio da rua. Logo que o tambor acabou o seu rufo, Simão de Nantua exclamou nestes termos: “sabeis como surgiu a vacina?” Observo alguns dentre vós que parecem desconfiar deste preservativo. Vou dizer-lhes como ela foi descoberta.
            “Havia na Escócia um médico chamado Jenner que tinha observado com muita atenção os estragos da doença das bexigas e procurava, havia muito tempo, algum meio de suavizar um flagelo tão funesto à espécie humana”.
“Ele não tinha podido descobrir nada, quando percebeu que os pastores do país, classe muito numerosa na Escócia, apareciam algumas vezes com borbulhas (pequenas vesículas) semelhantes às que aparecem nas tetas das vacas. Fez perguntas aos pastores e soube que quem sofria esta enfermidade nunca padecia a das bexigas. Ao mesmo tempo, um francês chamado Rabaud, habitante de Montpellier, tinha feito a mesma observação, e falou dela a um médico inglês, o qual o comunicou imediatamente ao médico escocês. Jenner fez logo experiências em que reconheceu e confirmou que as observações de Rabaud e suas estavam bem fundamentadas. Então fez conhecer a descoberta e todos os médicos confirmaram como novas experiências aquelas que Jenner havia feito. Chegaram a deitar uma criança vacinada com outra muito doente de bexigas e o mal não se comunicou”.
“Há quem diga que a vacina causa outras moléstias. Os insensatos assim o creem, mas isso são contos. A verdade do caso é que a vacina livra de bexigas naturais. É tal o benefício que daqui resultou que todo o mundo deveria saber os nomes do Escocês Jenner e do Francês Rabaud para os repetir sempre com reconhecimento em todos os países”. Eu já vos disse que todos aqueles que não fizessem vacinar seus filhos se arrependerão”.
Simão de Nantua tinha chamado para si uma grande atenção. O orador da prefeitura o tinha escutado com admiração e não interrompeu o seu discurso. Quando Simão acabou de falar e, ao final disse para Simão: tanto vós fizeste bem que eu mesmo já não tenho mais o que dizer. Porque a minha proclamação não tinha outro objeto do que anunciar aos habitantes que o mal das bexigas ameaçava o país e convidá-los a prevenirem-se contra esse mal. Vós tendes falado mais energicamente do que eu o poderia fazer, o que vos agradeço muito. – “Não há de quê, senhor; isto saiu do meu coração”.
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*Nota da autora do blog – a ortografia foi atualizada, mas as palavras e o estilo, com raras exceções, foram mantidos.
**Nota da autora do blog – a história é narrada por um amigo e companheiro das viagens de Simão pelas feiras de mercadorias que aconteciam nas aldeias da França.
***Nota da autora do blog – “doença das bexigas” era a denominação popular europeia da varíola no Séc. XIX.