Para quebrar a monotonia e fugir da rotina, apresento-lhes um
texto de um autor do Séc. XIX, a título de curiosidade.
Jussieu, M de -
História de Simão de Nantua ou O mercador de feiras. Traduazido por Philipe
Pereira D' Araujo e Castro. Editado na Tipografia de Luiz Correia da Cunha.
Lisboa. 1852.
Uma história de Simão de Nantua sobre a história das vacinas*
Capítulo XIII – Simão de Nantua faz uma proclamação sobre a
história da vacina ___________________________________________________________________
Quem é Simão
de Nantua? É o protagonista
das histórias escritas no livro “História de Simão de Nantua” ou “O mercador de
feiras”, obra a quem a Sociedade de Instrução Elementar, estabelecida em Paris,
conferiu o prêmio destinado, por um anônimo que se presume ser o Duque de La
Rochefoucauld, para o livro que parecesse mais conveniente à instrução moral e
civil dos moradores da cidade e do campo. A primeira edição deve ter saído em 1817
ou 1818.
Esse livro
foi traduzido para a língua portuguesa por Philippe Pereira D’Araújo e Castro e
publicado, em Lisboa, na tipografia de Luiz Correia da Cunha, em 1852.
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Entrando
na cidadede Bar-sur-Aube, Simão de Nantua parou de repente diante de uma casa a
cuja entrada estava assentada uma menina. Eu** não pude logo saber qual poderia
ser o motivo da indignação que observava nos olhos do meu companheiro; mas não
tardei muito a descobrir que a menina que ele examinava estava com o rosto
coberto de marcas vermelhas, e adivinhei o pensamento de Simão de Nantua. Este
entra e pergunta pela mãe da menina. Esta menina pertence-vos? Diz ele. – Sim,
Senhor. Como é possível que havendo estabelecimentos públicos para a vacinação,
espereis que venham as bexigas*** naturais ameaçar a existência de vossos
filhos! Não sabeis o que é uma vacina?
Enquanto
Simão de Nantua assim falava, nós ouvimos um tambor na rua. - Que é isto? Diz
Simão de Nantua. “Parece que é para dar algum aviso da parte do prefeito”.
Os
que iam passando paravam para ouvir o que lhes pretendia anunciar, e formavam
um círculo no meio da rua. Logo que o tambor acabou o seu rufo, Simão de Nantua
exclamou nestes termos: “sabeis como surgiu a vacina?” Observo alguns dentre
vós que parecem desconfiar deste preservativo. Vou dizer-lhes como ela foi
descoberta.
“Havia na Escócia um médico chamado
Jenner que tinha observado com muita atenção os estragos da doença das bexigas e
procurava, havia muito tempo, algum meio de suavizar um flagelo tão funesto à
espécie humana”.
“Ele
não tinha podido descobrir nada, quando percebeu que os pastores do país,
classe muito numerosa na Escócia, apareciam algumas vezes com borbulhas
(pequenas vesículas) semelhantes às que aparecem nas tetas das vacas. Fez
perguntas aos pastores e soube que quem sofria esta enfermidade nunca padecia a
das bexigas. Ao mesmo tempo, um francês chamado Rabaud, habitante de
Montpellier, tinha feito a mesma observação, e falou dela a um médico inglês, o
qual o comunicou imediatamente ao médico escocês. Jenner fez logo experiências
em que reconheceu e confirmou que as observações de Rabaud e suas estavam bem
fundamentadas. Então fez conhecer a descoberta e todos os médicos confirmaram
como novas experiências aquelas que Jenner havia feito. Chegaram a deitar uma
criança vacinada com outra muito doente de bexigas e o mal não se comunicou”.
“Há
quem diga que a vacina causa outras moléstias. Os insensatos assim o creem, mas
isso são contos. A verdade do caso é que a vacina livra de bexigas naturais. É
tal o benefício que daqui resultou que todo o mundo deveria saber os nomes do
Escocês Jenner e do Francês Rabaud para os repetir sempre com reconhecimento em
todos os países”. Eu já vos disse que todos aqueles que não fizessem vacinar
seus filhos se arrependerão”.
Simão
de Nantua tinha chamado para si uma grande atenção. O orador da prefeitura o
tinha escutado com admiração e não interrompeu o seu discurso. Quando Simão
acabou de falar e, ao final disse para Simão: tanto vós fizeste bem que eu
mesmo já não tenho mais o que dizer. Porque a minha proclamação não tinha outro
objeto do que anunciar aos habitantes que o mal das bexigas ameaçava o país e
convidá-los a prevenirem-se contra esse mal. Vós tendes falado mais
energicamente do que eu o poderia fazer, o que vos agradeço muito. – “Não há de
quê, senhor; isto saiu do meu coração”.
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*Nota da
autora do blog – a ortografia foi atualizada, mas as palavras e o estilo, com
raras exceções, foram mantidos.
**Nota da
autora do blog – a história é narrada por um amigo e companheiro das viagens de
Simão pelas feiras de mercadorias que aconteciam nas aldeias da França.
***Nota da
autora do blog – “doença das bexigas” era a denominação popular europeia da
varíola no Séc. XIX.