Desde
muito nova conscientizei-me que o comando geral do meu corpo estava situado
dentro da caixa óssea da minha cabeça: o cérebro. A própria natureza tratou o
cérebro como um órgão nobre e muito delicado oferecendo-lhe uma proteção óssea,
tipo capacete, para protegê-lo. Também lhe ofereceu uma cobertura densa de
cabelos para protegê-lo e aumentar a sua sensibilidade. Não é necessário tocar
a pele da cabeça para saber que alguma coisa se aproximou; é só tocar num fio
de cabelo.
Com sua delicada estrutura, órgãos e
seus neurônios, o cérebro humano comanda o sistema mais complexo do planeta e
integra todo esse conjunto por meio de processos e mecanismos extremamente
sofisticados. Ele comanda e controla, não só as atividades físicas (voluntárias
e involuntárias) como, também, as mentais (memória, aprendizagem, cognição,
raciocínio, reflexão e outras).
Até à década de 60, os cientistas
achavam que o cérebro era uma estrutura estática, inflexível, determinada pela
genética, incapaz de se alterar ao longo da vida adulta.
Nas décadas de 70 e 80 as pesquisas
científicas vieram demonstrar que o cérebro foi construído para mudar em função
das atividades e experiências vividas. Ele muda física e quimicamente, a partir
da forma como é usado. Novas habilidades ou comportamentos exigem adequações
nas conexões neurais que são realizadas por meio de novos neurônios e novas
sinapses criando novos “percursos”. Além disso, várias substâncias químicas são
produzidas em função das atividades e experiências exigidas do cérebro que, por
sua vez produzem novas reações e sensações.
Portanto,
essas mudanças e adequações provocam alterações na plasticidade e
funcionalidade do cérebro. É o que, aqui, estamos chamando de “ginástica”, ou
atividade mental voluntária realizada para desenvolver essas reações. Ao se
executar uma ação mental melhora-se essa capacidade e a própria estrutura do
cérebro. É este efeito que explica o fato de aperfeiçoarmos uma habilidade
exercendo-a constantemente, praticando exercícios com frequência. Nos bancos
escolares exigem-nos a resolução de problemas, a prática de exercícios
linguísticos, as leituras e estabelecimento de relações e outras atividades
próprias da vida escolar para aprendermos, desenvolvermos potenciais e executar
tarefas com maior competência.
As
mudanças ocorridas pela constância na execução de uma atividade podem reduzir
ou melhorar a habilidade ou capacidade. Sempre que uma atividade, um
comportamento ou uma atitude é repetido muitas vezes e se torna automático, o
cérebro fixa o “percurso” neural que o suporta e vai exigir muito mais esforço
para mudar, enrijece-se. Diz-se,
popularmente que o velho é teimoso, tem pouca flexibilidade, não muda, torna-se
empedernido. Possivelmente, seu cérebro está a caminho da “cristalização”;
gosta de comer sempre o mesmo, sentar-se na sua poltrona muito usada, sair de
casa para ir aos mesmos lugares, ouvir as mesmas músicas, repetir os mesmos
caminhos, assistir aos mesmos programas e conversar com as mesmas pessoas sobre
os assuntos de sempre. Esta repetição constante de ações e comportamentos
impede o cérebro de flexibilizar-se, diminui a plasticidade cerebral. Falta-lhe
“ginástica”.
Esses
achados das pesquisas foram imprescindíveis para aperfeiçoar a maneira como se
mantém a saúde mental e como se deve atuar na recuperação de lesões mentais.
Seu estudo ainda está longe de estar completo, mas já se pode aplicar e obter
benefícios para os seres humanos.
Paralelamente,
o conhecimento sobre a evolução do indivíduo mostrou que o uso intenso do
cérebro, vinte e quatro horas por dia, durante muitos anos, vai desgastando sua
vitalidade e harmonia. A rapidez dessa deterioração depende, além das
determinações genéticas, dos eventos acidentais de que é vítima, das lesões sofridas,
de como suas células são cuidadas durante a vida, dos nutrientes que recebe,
dos desafios físicos e mentais que lhe são impostos e das capacidades que lhe
são exigidas.
Continua
na próxima postagem....