quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Como é difícil pedir ajuda!!! (I)



 
Foto das mãos de avó e neto simbolizando um pedido de ajuda aos mais novos.

Quando percebi, estava chorando, as lágrimas caiam-me pelo rosto. Os meus dois filhos olhavam-me espantados e ficaram aflitos porque a mãe deles não costumava chorar. Eu também fiquei estranhando-me. Aquela aflição, a dor no peito, a sensação de aperto, sintomas irreconhecíveis! Que estranho! Nunca tinha acontecido comigo.
            Estávamos reunidos numa sala, conversando sobre as iniciativas burocráticas necessárias para terminar de passar para eles parte do meu patrimônio em Portugal. Eu sempre fizera isso, estava habituada a lidar com os bens, com os dinheiros, com os bancos, com os cartórios, com os advogados, com funcionários. Eu queria pedir que um dos meus filhos viajasse comigo até Portugal e me ajudasse nessas iniciativas. Sentia que não era capaz de, em alguns dias, tomar as providências necessárias. Tinha que fazer muito esforço para vencer algo interno e assumir que, agora, com a minha idade, eu não era tão capaz. Percebi que eu já não era aquela mulher independente, muito mais capaz de ajudar os outros do que ser ajudada. Nessa empreitada havia alguma coisa que exigia uma força que eu já não tinha. Estava habituada a motivar outras pessoas, a estimular os amigos, os alunos, os familiares para fazerem, tomar atitudes importantes, agirem. Agora, as coisas simples pareciam complicadas, ir de cá para lá, marcar horários, mover-me de um lugar para outro, parecia-me difícil, complicado, acima das minhas capacidades.
            Assumir e aceitar que eu precisava de ajuda, doía tanto que me fez chorar. Ultrapassar a barreira da minha autoimagem de pessoa capaz, forte, que enfrenta as dificuldades com facilidade e que resolve seus problemas sem precisar de pedir ajuda, transformou-se em um profundo sofrimento. Que vergonha pedir ajuda!!!!
            Pedir ajuda foi assumir meu limite, minha incapacidade, minha fragilidade. Mas, aos 76 anos temos que o fazer. É necessário contar com auxílios variados para manter a nossa qualidade de vida, o nosso bem-estar e a nossa integridade física e mental. O idoso precisa ultrapassar a sua vaidade, o seu orgulho e assumir a sua maior vulnerabilidade. É, talvez a única solução para os problemas que se instalam gradativamente e vão povoando a vida do idoso de dificuldades e limites.
            Quando eu estava decidida a divorciar-me, meu irmão, com uma crise de generosidade, disse-me que, se eu precisava de ajuda, precisava dizer como alguém me podia ajudar. Sem isso, ninguém tinha possibilidade de me ajudar. E eu estava muito atrapalhada, sem saber o que fazer. Ele só me poderia auxiliar se eu dissesse claramente, como e em que aspecto. Eu não estava habituada a pedir auxílio. Talvez pelo fato de ser a neta e a filha mais velha foi minha primeira experiência de assumir uma fragilidade. O fato de ceder e pedir ajuda, ajudou-me muito e me tirou de cima muitas dificuldades.
Continua na próxima postagem....