quinta-feira, 21 de março de 2024

A vulnerabilidade como companheira da velhice

A palavra vulnerabilidade não é muito usada nas conversas informais. Trata-se de uma condição de fragilidade que o idoso enfrenta devido à natural degradação do seu organismo. Todas as pessoas com mais idade sentem-se mais suscetíveis de lesões e, não só físicas, como mentais. Parece que a nossa força, resistência e capacidade de enfrentamento ficaram mais frágeis. Todos os dias acontece algo, de pouca importância, que me faz lembrar da minha vulnerabilidade. Bato com o braço em uma porta, imediatamente, um capilar venoso se lesa e deixa escapar um pouco de sangue. Manchas roxas são mais comuns que em outros tempos. Coloco um pouco de gelo, por 10 minutos, durante alguns dias e o problema desaparece. Algumas vezes, com baixas temperaturas, os pés demoram para aquecer, coloco umas meias e uma bolsa de água quente e o problema é solucionado. Um cão amigo pula para cumprimentar-me, arranha-me e tenho que lavar a lesão muito bem com água e sabão e colocar um pequeno curativo. Uns minutos com gelo, durante 3 dias, ajuda a cicatrização. Há alguns anos percebi que os meus sentidos não estão tão alertas e sensíveis; a sede e a fome já não dão grandes sinais e tenho que comer e beber quantidades decididas por hábito ou racionalidade porque a sensibilidade não dá as informações muito precisas. E as histórias se repetem e multiplicam-se ao longo dos dias. Sob o ponto de vista físico também aparecem as fragilidades mais graves, as infecções são mais rápidas em surgir, o equilíbrio ao movimentar-me já me parece menos seguro e as feridas são mais demoradas para se curarem. Ponho a funcionar, com mais precisão os comportamentos saudáveis, as caminhadas e a atividade física planejada, musculação ou outra, mais frequente, a alimentação mais rica e diversificada em nutrientes, as noites mais longas e com mais cuidados nos horários, as interações sociais mais frequentes e assim por diante. A vitamina C e a D passam a ser priorizadas para ajudarem o sistema imunológico. Com isso espero que minhas células vivam em ambiente mais saudável e funcionem melhor. Mas eu estou mais frágil! A vulnerabilidade destaca-se, também, no funcionamento mental. Fico mais desfocada e menos concentrada em todas as atividades, qualquer acontecimento inesperado faz meu coração bater mais rápido, esqueço com facilidade o que sempre lembrei e o estresse instala-se rapidamente mesmo diante de pequenas pressões. Um fato inesperado desagradável, um temor de pouca importância, uma solução que não encontro para superar uma dificuldade e outros desafios similares ocasionam um estresse que altera o meu dia e provoca desequilíbrios, mal-estar, diminuição do foco, esquecimentos estranhos, falta de concentração, pouco rendimento naquilo que faço e outros sinais e sintomas nunca dantes experimentados frente a fatos de tão pequena importância. Outro dia, na primeira consulta com um médico, esqueci o número do meu telefone; só no final da consulta, quando eu já estava mais à vontade, o lembrei. E o tempo para sair da crise de estresse é muito maior; atingir o estado de relaxamento é muito demorado. Agora, mais experiente, para conviver melhor com o estresse, tento percebê-lo com rapidez e iniciar as estratégias de proteção: mudar a atividade, aumentar o exercício, ler um livro que leva meus pensamentos para outros lugares e ambientes, comer e beber algumas substâncias muito gostosas, vou para um parque andar e ver pessoas, telefono para amigos e assim por diante. Não há dúvida, pessoas idosas são diferentes de adultos de meia idade. Não sei se os médicos geriatras estão atentos e podem ajudar. Os adultos mais jovens não podem compreender todas as diferenças e as particularidades dos velhos. Consequentemente, se quisermos ser compreendidos e respeitados temos que ajudar os mais novos, explicar de forma precisa e clara as nossas diferenças e repetir, quantas vezes forem necessárias essas explicações.