quinta-feira, 25 de agosto de 2022
A habitação na muita idade: morando sozinho – A decoração
CO-AUTORIA – Arquiteta Cecilia Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo.
Continuação da postagem anterior A decoração é um aspecto muito importante pelo fato de ser altamente individual e tocar profundamente a sensibilidade humana. O gostar ou não gostar é particular e indiscutível. Objetos, formatos, cores, espaços, texturas e outros possuem algum significado, mexem com as emoções, despertam recordações boas ou más, estimulam sentimentos. O “design de interiores” não pode abster-se desses significados e o projetista precisa interpretar essas dimensões e, simultaneamente, atender às sensações de abrigo, conforto, segurança e funcionalidade. Isso inclui que um lar jamais pode parecer um hospital, uma fábrica, uma indústria ou uma prisão. A decoração sugerida pelos idosos em pesquisas específicas valoriza o contato com a natureza (grandes janelas com muita luminosidade e ventilação naturais, sol, paisagens, canto dos pássaros, folhagens e flores), privacidade, amplidão dos espaços, controle do conforto térmico e acústico, possibilidade de isolar-se quando lhe apetecer refletir, rezar, meditar, assistir a um programa de televisão, descansar, desenvolver atividades com outras pessoas (mesa na cozinha, sala organizada para receber amigos e familiares, “home office” para trabalho em conjunto, etc.) e deve adequar-se à perda constante da capacidade funcional do idoso, incluindo audição e visão. O posicionamento de quadros deve ser de forma a poderem ser observados a uma altura menor, para as pessoas sentadas (cadeira de rodas). Em vista disso, o importante é que se possa, sem abandonar os aspectos técnicos, estabelecer o foco no usuário e na sua maneira de compreender e interagir com o meio social e físico. É essencial que o arquiteto considere as referências culturais e sociais, particularidades, hábitos e necessidades do morador, além de suas relações com os objetos e seus significados. Um espaço visualmente atraente pode impulsionar uma melhoria do humor, disposição ou ânimo ou um estado de felicidade. Se há uma fase da vida na qual devamos priorizar mais e dar lugar às nossas preferências, esta talvez seja a muita idade. Por ‘preferências’ quero dizer um leque grande de idiossincrasias subjetivas e necessidades objetivas e físicas: hábitos quaisquer que sejam, necessidades profissionais técnicas e, tanto quanto estas, também as preferências estéticas, subjetivas, sutis e aquelas que nem sempre são tão fáceis de se explicar. Todas precisam de seu lugar. Eu acredito que sofreria muito se fosse obrigada a morar em uma unidade onde a minha estética, a minha história, as minhas necessidades e a minha personalidade não fossem respeitadas. Eu tenho necessidade de estar entre coisas que me agradam, em ambientes de bom gosto e com pessoas de quem gosto. Por esse motivo, gostei de uma palestra de decoradores que indicava algumas tendências atuais da decoração reforçadas pela pandemia da Covid-19. São elas: incrementar as áreas de convívio social; implementar espaços para trabalhar, divertir-se e estar; usar plantas e materiais naturais no interior das moradias; reutilizar e renovar móveis, acabamentos e objetos antigos; destacar as lembranças e objetos que remetem à história do morador; e criar ambientes com personalidade, que se distanciem do óbvio, mais ajustados às particularidades do morador. Morar bem faz bem à saúde. É fundamental e uma necessidade básica. Por esse motivo, no mundo inteiro as pessoas são unânimes em trabalhar e lutar para ter uma boa moradia, usam seu tempo para enfeitar e tornar mais acolhedor o espaço onde moram e, muitas vezes, trabalham.
quarta-feira, 17 de agosto de 2022
A habitação na muita idade: morando sozinho – A arquiteta indica e explica
CO-AUTORIA – Arquiteta Cecilia Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo.
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Os espaços onde o idoso executa tarefas exigem cuidados com a manipulação facilitada e segurança. O mais importante é o usuário sentir-se livre, seguro e com facilidade para trabalhar ali. Alguns exemplos abaixo: A altura das bancadas, cubas, utensílios, armários e prateleiras deve ser adequada à altura do usuário e levar em conta o fato de que sua altura tende a diminuir com o tempo. Gavetas oferecem a vantagem de melhorar a organização dos utensílios porque evitam o empilhamento dos mesmos e, se em boa altura, não necessitam de agachamentos. Em alguns casos pendurar peças de uso frequente nas paredes ou pendentes pode ajudar. O fato dos objetos estarem bem visíveis facilita que sejam encontrados com mais facilidade. O planejamento dos cômodos deve permitir uma rotina de limpeza fácil e segura como, por exemplo: utensílios com espaço para serem guardados para não atrapalhar a mobilidade; prever os produtos e instrumentos ao alcance da mão; prever fácil descarte do lixo; planejar fácil acesso aos ralos, etc. Uma vez que os idosos são mais distraídos, é preferível optar por eletrodomésticos que tenham dispositivos de segurança, que sejam simples, de fácil utilização com dispositivos de desligamento automático. Também deve-se escolher registros de torneira, puxadores de gaveta e maçanetas com alavanca ou cruzeta porque são mais fáceis de usar; janelas fáceis de abrir e fechar; e varais de roupa com manivela para içá-los. Recomenda-se incluir recursos eletroeletrônicos e de tecnologia com controles facilitadores (televisão, aparelhos de música, celulares, luminárias e outros). Quanto à iluminação, temos que lembrar que os possíveis moradores idosos passaram a maior parte da vida em ambientes iluminados por luz incandescente. Essa tecnologia, hoje em desuso, é melhor do que a maior parte das atuais lâmpadas LED, cuja tecnologia, é econômica, mas não tem a qualidade de luz das mais antigas. Para o conforto do ambiente são preferíveis lâmpadas de cor quente, amarelada e que emitem muita claridade. Para facilitar o acionamento de abajures, podem ser cogitado o acionamento pelo piso (o usuário pisa em um botão) ou por tomada comandada (o abajur pluga em uma tomada e esta é acionada por um interruptor de parede, convencional, de modo que basta apertar o interruptor de parede para que o abajur acenda). Interruptores de parede costumam ser mais fáceis de apertar do que interruptores tradicionais de abajur. O mais importante é poder contar com a participação do usuário em todas as escolhas. Ele deve participar e opinar nessas decisões práticas.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2022
A habitação na muita idade: morando sozinho – Os espaços onde a permanência é maior
CO-AUTORIA – Arquiteta Cecilia Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo.
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O dormitório, a cozinha, o “home office” e a sala são cômodos particularmente importantes devido ao maior tempo de utilização. Assim, esses espaços exigem cuidados especiais tais como: amplitude maior, com controle de temperatura e umidade, luzes apropriadas para leitura, inclusive noturna, e o dormitório estar localizado perto do banheiro (o idoso urina muitas vezes à noite). A cama, cadeiras e sofá devem ser um pouco mais altos que os usuais para facilitar a mobilidade do idoso. Todos esses quatro espaços devem ter condições para manter próximos, copos e água, livros, celulares, remédios e recursos para a comunicação fácil (fones, alertas, campainhas). O banheiro deve ser suficientemente amplo para permitir banho com apoio e uso de cadeiras de roda, ter apoios na parede, perto de vasos, lavatórios e no chuveiro, possuir espelhos de aumento para a maquiagem (existem modelos com uma haste extensora, eficaz) e luzes noturnas bem situadas. Se for de uso pessoal precisa ter acesso fácil, livre de qualquer obstáculo, inclusive porta. Outra particularidade é possuir nichos para utensílios de banho de fácil acesso e limpeza (ex.: saboneteira). O meu banheiro precisa de um varão na área do chuveiro para colocar calcinhas, meias e máscaras a secar porque gosto de lavá-las pessoalmente, durante o banho. Para pessoas com dificuldades de mobilidade nas mãos e braços, pode ser bem vinda uma papeleira (que solta papéis avulsos) ao invés do rolo de papel higiênico que depende das duas mãos para ser usado. As normas governamentais aconselham a prever que a porta do banheiro abra para fora porque se o usuário cai no interior do banheiro e perto da porta pode impedir a entrada do socorrista. A cozinha e a área de serviço são os cômodos que, mais facilmente, oferecem riscos de infecções devido alimentos, umidade, calor e outros fatores. Por esse motivo, além do espaço necessário para se trabalhar com segurança e conforto (bengalas, andadores e cadeiras), devem ter facilidades para higiene rigorosa dos alimentos, das paredes, pisos, mobiliário e maquinário. As tarefas domésticas podem ser muito atrativas para alguns idosos porque evita o sedentarismo, fá-los sentirem-se úteis e independentes. Muitas vezes suas habilidades podem atrair a companhia de amigos e familiares; as avós poderão conquistar os seus netos com delícias gastronômicas. Assim, a existência de mesas e cadeiras na cozinha pode ser desejável, bem como bancadas ou balcões secundários para estar.
Continua na próxima postagem...
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