quinta-feira, 24 de junho de 2021
O sono é fundamental para a saúde (revisado)– Parte I
Até há poucos anos escutei dizer que “quem madruga, Deus ajuda”. Antigamente, os pais acordavam as crianças cedo para lhes incutir “bons hábitos”. Pensavam que dar bom exemplo era acordar cedo e dormir poucas horas por dia porque era sinal de pessoa trabalhadora e ativa. As pessoas tinham orgulho em dizer que se sentiam muito bem dormindo apenas quatro ou cinco horas por dia. Dormir, para as gerações passadas, era sinônimo de preguiça.
Aos 15 anos eu dormia cerca de oito a nove horas diariamente e, se não completava a porção de sono necessária, passava o dia todo sonolenta. Não falava muito sobre isso para não dizerem que eu era preguiçosa. Percebi também que, quando ficava uma noite sem dormir, no dia seguinte precisava dormir o dobro do tempo. Os meus pais eram sábios, respeitavam muito a minha necessidade de sono e favoreciam as condições para que eu pudesse dormir o tempo que fosse necessário. Eles também dormiam muito bem.
A partir de meados do século passado o conhecimento científico sobre o sono se desenvolveu muito devido ao aparecimento de instrumentos especializados e bastante precisos que podiam captar informações cerebrais com maior acuidade e confiabilidade. Assim, as pesquisas científicas puderam intensificar-se e, atualmente, já está demonstrado que dormir o necessário e descansar após exercícios físicos intensos são importantes para a saúde.
O sono é uma necessidade fisiológica com importante função restauradora e reguladora de todo o organismo, necessária para a preservação da vida saudável. Isso justifica o indivíduo estar atento à qualidade dessa função e procurar auxílio profissional sempre que note alterações.
Parece que o sono é induzido pela liberação do hormônio hipofisário, a melatonina. Alguns horários durante as 24 horas do dia, como madrugada e após o almoço, favorecem a liberação dessa substância. A exposição ao sol, a ingestão de carboidratos e banhos mornos são alguns fatores que também aumentam a produção de melatonina. Esses agentes podem ser usados para melhorar a qualidade do sono nos idosos.
As necessidades humanas de sono diário nas várias etapas da vida - recém-nascidos, crianças e jovens - já são bem conhecidas. Sabe-se, também, que há variações de indivíduo para indivíduo e que existem vários determinantes pessoais e contextuais que auxiliam a pessoa a dormir melhor ou pior.
Quanto ao sono do idoso, ainda há muito a ser pesquisado e estudado, mas, já se sabe que, mais da metade dos idosos têm problemas relacionados ao sono motivados por dor ou desconforto físico, fatores ambientais, ansiedade, estresse, preocupações e outros desconfortos emocionais, medicamentos e alterações na saúde. As modificações no padrão do sono alteram o equilíbrio orgânico (balanço homeostático) e têm impacto negativo no sistema imunológico, nas funções psicológicas, no desempenho geral, no humor, aumentam o aparecimento de comportamentos alterados, aumentam as dificuldades de recuperação e diminui a habilidade de adaptação. A incapacidade para dormir bem está relacionada à diminuição mais acentuada da função cognitiva, maiores riscos de quedas e acidentes, prejuízos nas funções respiratórias e cardiovasculares, necessidade antecipada de cuidadores e aumento da mortalidade dos idosos.
Os principais sintomas de sono não saudável no idoso são: dificuldade para iniciar o sono (insônia inicial), acordar muitas vezes durante a noite, ficar na cama muito tempo sem dormir, sonolência diurna, insônia terminal ou dormir pouco tempo, uso frequente de drogas para dormir e cochilos muito frequentes durante o dia.
Por outro lado, os padrões do sono no envelhecimento saudável são: tempo diário de sono noturno, em média, à volta de seis a sete horas; cerca de três ou quatro despertares noturnos; poucos cochilos diurnos; tendência a deitar e acordar mais cedo e sensação de bem estar ao acordar, ou seja, sentir que dormiu o suficiente e está descansado.
Continua na próxima postagem....