quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Eu e o impacto do distanciamento social por 4 meses

ROMA é minha assistente pessoal é uma metamorfose da minha personalidade Pode-se dizer que é um avatar. Seu perfil e suas tarefas podem ser encontrados em Quem somos.

O aparecimento repentino do novo coronavirus (ou SARS-CoV-2) e o risco da moléstia COVID-19 impactaram o mundo inteiro. E há uma quase unanimidade de que o mundo depois dele será muito diferente do antigo. Foi uma “bomba” que caiu na minha cabeça, alterando a minha vida, as vidas dos outros e todo o nosso contexto. Passei muito tempo trabalhando para me adaptar ao confinamento, mudar minha rotina, adotar novas tarefas, alterar meus planos, minha maneira de interagir com os demais, usar a tecnologia como a melhor alternativa de comunicação e passar a viver distanciada, com pouco contato humano. Foi muito chocante, alterou muitas coisas fora e dentro de mim. Não sou mais o que era e preciso reencontrar-me. Numa visão geral foi positivo sair da “zona de conforto” e rever todos os meus posicionamentos. Agora, está na hora da reflexão e da avaliação do impacto sofrido – o que o isolamento social me ensinou?
a) A consciência do outro Parece que ficou mais claro que o outro existe e que eu preciso dele, parece que aumentou a minha consciência da importância e da influência do outro. Preciso do outro para me civilizar, atualizar, interagir e viver. O fato de podermos contagiar os outros, depender do outro para não ser contagiado, não poder ser tocado, precisar de distanciar-me tornou a visão do outo mais consistente apesar da minha profissão já ter esse viés. Como os amigos são importantes e fazem falta!!!!! A solidariedade tornou-se presente com mais facilidade e o respeito pelos outros mais arraigado. Em resumo, todos nós vamos precisar descer do pedestal e olhar o coletivo.
b) A consciência do euEsse longo período de isolamento permitiu que eu me olhasse repetidas vezes e permitiu o aprofundamento do meu autoconhecimento. Aos 78 anos sou muito diferente do que já fui, minhas sensações são diferentes ou têm novos significados. A sensação de fome passou a ser um leve mal estar na região do estômago que passa depois que como. A sede é sentida com um zumbido no ouvido e concomitantemente, pouca urina e fezes endurecidas que desaparecem horas após eu ingerir mais líquidos. Descobri as minhas fragilidades, os meus atuais limites na movimentação e na mobilidade, na alimentação, na resistência ao sono, no transporte de pesos e outras semelhantes. Outro achado interessante é a resistência diminuída a rotinas muito severas e rígidas. Hoje, preciso, mais do que antes, de tempo para criar, do “ócio criativo”. Talvez seja uma lentidão do pensamento, da reflexão e da tomada de decisão. Percebi, também que fico ansiosa ou estressada quando acho que vou esquecer algo importante. Meus filhos dizem que os idosos ficam apressados para fazer as coisas. Não acho que seja pressa, é a ansiedade diante da possibilidade de esquecer algo que não pode ser esquecido.
Mesmo na atribuição de valores houve grandes alterações dentro de mim. Parece que valorizo mais a simplicidade da vida e as pessoas com quem converso de forma franca e autêntica, bem como preciso do corriqueiro que promove o aconchego. Por outro lado, perdeu o valor aquilo que os outros pensam ou acham, gostam ou não; assumi a minha liberdade de fazer o que gosto. A minha vida é minha e sou eu que a vivo.
c) A economia – Uma grande surpresa foi a economia que fiz neste período. Não gastei gasolina, não fiz refeições fora de casa, reduzi despesas com empregada doméstica, não viajei, não fui ao cabeleireiro, não fui ao shopping ou algum centro comercial, não comprei roupa nova (já tenho tanta roupa!!!), não saí para teatro ou outro divertimento noturno e outros. O fato de ser eu a executar as tarefas domésticas obrigou-me a raciocinar para diminuir desperdício, trocar fornecedores, reaproveitar as sobras, aproveitar melhor os recursos já existentes, costurar e reparar roupas e consertar muitas coisas em casa. Dessa forma, contas feitas, meu orçamento reduziu-se em 60% do que gastava antes do confinamento. Aumentei meus investimentos.
d) A melhoria dos hábitos – Com o crescimento do “ócio criativo”, refleti sobre meus hábitos, estudei e tentei aperfeiçoá-los; isso refletir-se-á no futuro. Lavar as mãos com mais frequência, usar máscara quando gripada, diminuir ou substituir alimentos menos saudáveis como os industrializados, margarinas, adoçantes, alimentos artificiais (suplementos, vitaminas, etc.) e aumentar ou incluir os comportamentos relacionados à saúde (exercícios funcionais, sono, leituras e outros) foram alguns itens que exigiram reflexão, aprendizagem e criação de estratégias para melhorarem. Outro item que sofreu aperfeiçoamentos foi a minha relação com a tecnologia que eu andava postergando há muito tempo. De um lado, abandonei o meu habito de estar agarrada ao celular e racionalizei seu uso, por outro lado tratei de aprender a usar programas que melhoram a comunicação a distância. Foi muito proveitoso. Fiz as pazes com as tarefas domésticas que deixaram de ser aborrecidas para se tornarem oportunidades de exercício e movimentação.
O confinamento em casa foi a melhor oportunidade para essas alterações.
e)A aprendizagem constante e variada – O “ócio criativo” que adquiri no “fique em casa” permitiu-me criar o hábito de refletir e concentrar-me na implementação das mudanças. Tive tempo para selecionar as rotinas benéficas daquelas perigosas que podem acelerar a calcificação do meu cérebro, ou seja, aquelas que induzem à criação das zonas de conforto. Fui obrigada e aplaudi a minha mudança. Fez-me muito bem, aumentou minha atualização e rejuvenesceu meus hábitos. Toda essa renovação implicou em novas aprendizagens, novas leituras, novas experiências e novas atitudes. Li muito para melhorar o meu francês, li muito para aumentar o meu conhecimento sobre a velhice e o envelhecimento, segui cursos de meditação, experimentei receitas e alimentos novos, ouvi muita música clássica e popular brasileira de grandes compositores, questionei os meus velhos conceitos e outros.
f) Preparo para o “desconfinamento” – Para finalizar, percebi que, como estou diferente, tenho que me preparar para retornar ao meu contato próximo com o mundo e já estou planejando e iniciando esse trabalho. Da mesma forma que fui obrigada a adequar-me ao isolamento, agora é a hora de adaptar-me novamente ao “desconfinamento” por meio de adequações lentas, observação das minhas reações e ajustes às novas necessidades. Reprogramei a vida e estou feliz e o tempo está passando tão depressa!!!!!!