ROMA é minha assistente pessoal é uma metamorfose da minha
personalidade Pode-se dizer que é um avatar. Seu perfil e suas
tarefas podem ser encontrados em Quem somos.
O
aparecimento repentino do novo coronavirus (ou SARS-CoV-2) e o risco
da moléstia COVID-19 impactaram o mundo inteiro. E há uma quase
unanimidade de que o mundo depois dele será muito
diferente do
antigo. Foi uma “bomba” que caiu na minha
cabeça, alterando a
minha vida,
as vidas dos outros e todo
o nosso contexto.
Passei
muito tempo trabalhando para me
adaptar ao confinamento, mudar
minha
rotina, adotar
novas tarefas, alterar
meus
planos, minha
maneira de interagir com os demais, usar
a tecnologia como a melhor alternativa de comunicação e passar
a viver distanciada,
com pouco contato humano.
Foi
muito chocante,
alterou muitas coisas fora e dentro de mim. Não sou mais o que era e
preciso reencontrar-me. Numa visão geral foi positivo sair da “zona
de conforto” e rever todos os meus posicionamentos. Agora, está
na hora da reflexão e da avaliação do impacto sofrido – o que o
isolamento social me ensinou?
a)
A
consciência do outro
–
Parece
que ficou mais claro que o outro existe e que eu preciso dele, parece
que aumentou a
minha
consciência da importância e da influência do
outro. Preciso
do outro para me civilizar, atualizar, interagir e viver.
O fato de podermos contagiar os outros, depender do outro para não
ser contagiado, não poder ser tocado, precisar de distanciar-me
tornou a visão do outo mais consistente apesar da minha profissão
já ter esse viés. Como
os amigos são importantes e fazem falta!!!!!
A
solidariedade tornou-se presente com mais facilidade e
o respeito pelos outros mais arraigado.
Em
resumo, todos nós vamos precisar descer do pedestal e olhar o
coletivo.
b)
A
consciência do eu
– Esse
longo período de isolamento permitiu que eu me olhasse repetidas
vezes e permitiu o aprofundamento do meu autoconhecimento. Aos 78
anos sou muito diferente do que já fui, minhas sensações são
diferentes ou têm novos significados. A sensação de fome passou a
ser um leve mal estar na região do estômago que passa depois que
como. A sede é sentida com um zumbido no ouvido e
concomitantemente, pouca urina e fezes endurecidas que desaparecem
horas após eu ingerir mais líquidos. Descobri as minhas
fragilidades, os meus atuais limites na movimentação e na
mobilidade, na alimentação, na resistência ao sono, no
transporte de
pesos
e outras semelhantes. Outro achado interessante é a resistência
diminuída a rotinas muito severas e rígidas. Hoje, preciso, mais do
que antes, de tempo para criar, do “ócio criativo”. Talvez seja
uma lentidão do pensamento, da reflexão e da tomada de decisão.
Percebi,
também que fico ansiosa ou estressada quando acho que vou esquecer
algo importante. Meus filhos dizem que os idosos ficam apressados
para fazer as coisas. Não acho que seja pressa, é a ansiedade
diante da possibilidade de esquecer algo que não pode ser esquecido.
Mesmo
na atribuição de valores houve grandes alterações dentro de mim.
Parece que valorizo mais a simplicidade da vida e
as
pessoas com quem converso
de forma franca e autêntica, bem
como preciso do
corriqueiro que promove o aconchego.
Por outro lado, perdeu o valor aquilo que os outros pensam ou acham,
gostam ou não; assumi a minha liberdade de fazer o que gosto. A
minha vida é minha e sou eu que a vivo.
c)
A economia – Uma
grande surpresa foi a economia que fiz neste período. Não gastei
gasolina, não fiz refeições fora de casa, reduzi despesas com
empregada doméstica, não
viajei, não
fui ao cabeleireiro, não fui ao shopping ou algum centro comercial,
não comprei roupa nova (já
tenho tanta roupa!!!),
não saí para teatro ou outro divertimento noturno e outros. O fato
de ser eu a executar as tarefas domésticas obrigou-me a raciocinar
para diminuir desperdício, trocar
fornecedores, reaproveitar
as sobras, aproveitar melhor os recursos já existentes, costurar
e reparar roupas e
consertar muitas coisas em casa. Dessa forma, contas feitas, meu
orçamento reduziu-se em 60% do que gastava antes do confinamento.
Aumentei
meus investimentos.
d)
A
melhoria dos hábitos
– Com o crescimento do “ócio criativo”, refleti sobre meus
hábitos, estudei
e tentei aperfeiçoá-los; isso refletir-se-á no futuro. Lavar as
mãos com mais frequência, usar máscara quando gripada, diminuir ou
substituir alimentos menos saudáveis como os industrializados,
margarinas, adoçantes, alimentos artificiais (suplementos,
vitaminas, etc.)
e
aumentar ou incluir os comportamentos relacionados à saúde
(exercícios funcionais, sono, leituras e outros)
foram
alguns itens que exigiram reflexão, aprendizagem e criação de
estratégias para melhorarem. Outro
item que sofreu aperfeiçoamentos foi a minha relação com a
tecnologia que eu andava postergando há muito tempo. De um lado,
abandonei o meu habito de estar agarrada ao celular e racionalizei
seu uso, por outro lado tratei de aprender a usar programas que
melhoram a comunicação a distância. Foi muito proveitoso. Fiz
as pazes com as tarefas domésticas que deixaram de ser aborrecidas
para se tornarem oportunidades de exercício e movimentação.
O
confinamento em casa foi a melhor
oportunidade para
essas alterações.
e)A
aprendizagem constante e variada
– O “ócio criativo” que adquiri no “fique em casa”
permitiu-me criar o hábito de refletir e concentrar-me na
implementação das mudanças. Tive tempo para selecionar as rotinas
benéficas daquelas perigosas que
podem acelerar a calcificação do meu cérebro, ou seja, aquelas que
induzem à criação das zonas de conforto. Fui obrigada e aplaudi a
minha mudança. Fez-me muito bem, aumentou minha atualização e
rejuvenesceu meus hábitos. Toda essa renovação implicou em novas
aprendizagens, novas leituras, novas experiências e novas atitudes.
Li muito para melhorar o meu francês, li muito para aumentar o meu
conhecimento sobre a velhice e o envelhecimento, segui cursos de
meditação, experimentei receitas e alimentos novos, ouvi muita
música clássica e popular brasileira de grandes compositores,
questionei os meus velhos conceitos e outros.
f)
Preparo
para o “desconfinamento”
– Para finalizar, percebi que, como estou diferente, tenho que me
preparar para retornar ao
meu contato próximo com o mundo e já estou planejando e iniciando
esse
trabalho. Da mesma forma que fui obrigada a adequar-me ao isolamento,
agora é a hora de adaptar-me novamente ao “desconfinamento” por
meio de adequações lentas, observação das minhas reações e
ajustes às novas necessidades. Reprogramei
a vida e
estou feliz e o tempo está passando tão depressa!!!!!!