Fichas chinesas do jogo de Mahjong, em osso, do inicio do Séc. XX |
Há
pouco tempo percebi com clareza que nos dias em que eu fazia meus exercícios
físicos ficava mais alegre e motivada para realizar atividades; por outro lado,
sempre que se passava um ou dois dias sem academia ou caminhada ou outra
atividade física, o meu corpo ficava mais preguiçoso e desanimado. Conversando,
lendo e estudando fui aprendendo sobre as relações entre o prazer e o cérebro.
As células cerebrais ou neurônios,
ao receber maior aporte de sangue cheio de oxigênio e nutrientes, funcionam
melhor. Consequentemente, liberam a produção de substâncias químicas (hormônios
neurotransmissores) responsáveis por sensações de prazer e animação. A
liberação desses hormônios na circulação produz algumas reações benéficas ao
ser humano.
Os hormônios neurotransmissores são
aquelas substâncias que conduzem os estímulos de um neurônio para outro. Entre
os que são relacionados ao prazer, os mais conhecidos, são a endorfina, a
serotonina, a dopamina e a ocitocina. Hoje, já se encontra muita literatura
sobre essas substâncias e a população já tem acesso a informações variadas e
com redação bastante didática. Essas substâncias, de forma geral, quando
liberadas na circulação sanguínea ocasionam vários efeitos ligados às sensações
de bem estar: felicidade, satisfação, diminuição das sensações doloridas,
saciedade, regulação das interações sociais e autoconfiança. Há alguns estudos
que evidenciam efeitos benéficos especiais desses hormônios neurotransmissores
que podem auxiliar o tratamento da depressão e da obesidade.
Por outro lado, esses efeitos
prazerosos vão, por sua vez, estimular a produção dessas substâncias levando o
ser humano a viver melhor, funcionar melhor e, portanto, ter uma vida mais saudável.
Em síntese, ficar contente e alegre, ser agradado e fazer atividades que lhe
dão prazer, faz bem à saúde psíquica e orgânica. O prazer estimula a produção
de neurotransmissores e estes, por sua vez, atuam aumentando as sensações
benéficas.
Portanto,
o cérebro precisa do prazer para manter-se saudável. Os estudos e o
conhecimento sobre estas relações só se desenvolveram com o aperfeiçoamento dos
equipamentos de diagnóstico por imagem, como a neuro imagem e aparelhos para
varreduras funcionais do cérebro que permitem as investigações psíquicas.
Assim,
para retardar o processo de envelhecimento do indivíduo é indispensável que a
saúde mental não seja esquecida e esta depende, em parte, do cérebro receber
doses adequadas de prazer.
Há
uns anos atrás, encontrei um texto muito interessante sobre o “ikigai”, palavra
japonesa que significa “força motriz para viver”. Parece, segundo os japoneses,
que todos têm um “ikigai”, ou seja, um motivo específico para o fazer viver,
aquilo que o estimula, o que ele gosta de fazer, a essência da vida de cada
indivíduo. Algo que para cada um é tão importante que lhe serve de motivo para
viver. “Ikigai” também pode ser traduzido como “o objeto de prazer para viver”
ou “a arte que o levará aos seus propósitos de vida”.
Essa
arte chamou a atenção do ocidente por ser valorizada, aplicada e divulgada por
uma comunidade japonesa cuja média de anos de vida é muito acima da média do
país. Assim, descobrir e viver em função do que gosta parece ser determinante
para os indivíduos viverem longamente. Não é fácil descobrir, dentro de nós, os
nossos propósitos pessoais que podem ser muito diferentes dos objetivos dos
outros e podem demorar muito tempo e exigir muita reflexão e coragem para
atuarmos em função deles. Mas precisamos abandonar a velha ideia de que o indivíduo
que faz o que lhe é essencial é egoísta. Na verdade, ele é biologicamente impulsionado e essa atitude pode diminuir a culpa de algumas
pessoas.
Continua
na próxima postagem.....