quinta-feira, 27 de julho de 2023

A longevidade é um dos seus sonhos? Qual é seu preço?

Até há pouco tempo um dos meus sonhos era viver muito. A vida era boa demais para dispensá-la. Acredito que a longevidade ainda é um grande desejo das pessoas de todas as faixas etárias. No correr da minha vida, a cada ano vai ficando mais claro que a autonomia e a independência precisam acompanhar essa muita idade. É este o primeiro “custo” da longevidade. A liberdade e o meu bem estar sempre foram os mais importantes critérios para as minhas decisões. Assim, meu maior medo é ficar dependente de alguém que ache as próprias ideias melhores que as dos outros. Os mais novos não têm condições de compreender os mais velhos porque não passaram pelas mesmas experiências nem pelo mesmo mundo. Portanto, uma parte do preço da longevidade está na necessidade de investir em saúde sem condescendências. Um dos grandes estímulos para eu criar e dedicar-me a este blog é que eu gosto de viver e gostaria de manter a vida por longos anos sob a condição de continuar a ter as capacidades necessárias para tomar as decisões relativas à minha vida e poder aplicá-las da maneira que quero, quando eu achar o momento adequado e com as características de que gosto. Aceito sugestões, mas tenho dificuldade em lidar com o autoritarismo. Tenho lido muito, vivido muito e experimentado muitas coisas e percebo que chega um dia em que a nossa liberdade é cerceada, seja por doença e incapacidade nossa, seja por falta de condições, seja por ignorância ou incompreensão dos mais novos, seja por arrogância e autoritarismo de algumas pessoas. A longevidade já não nos vai parecer tão desejável. Portanto, a saúde passa a ser prioridade na minha rotina. Temos que conseguir mudar e, até certo ponto, adaptarmo-nos às novas condições de vulnerabilidade. Outro fator que pode tornar a longevidade um peso em lugar de um sonho é a perda constante das pessoas mais próximas de nós. É um outro “custo” da longevidade. As pessoas mais antigas, aquelas que conviveram mais tempo conosco vão desaparecer mais cedo e deixar um vazio que leva muito tempo para ser preenchido. Hoje, com 81 anos, sou a pessoa mais velha da minha família materna. Agora, não existe ninguém com intimidade que tenha conhecido o ambiente e a cultura do mundo onde passei meus primeiros anos de vida. Frequentemente, preciso contar histórias sobre a minha infância para que alguém compreenda algum detalhe da minha personalidade. Eventualmente, algumas perdas podem ser da nossa descendência ou criação e, nesse caso, são, ainda, mais doloridas. Vi a minha avó longeva perder uma filha de 32 anos e convivi com minha mãe, que viveu até aos 95, quando ela perdeu uma filha que tinha, apenas, 55 anos. A dor parece ser insuportável e permanente. A cada ano que passa as perdas vão sendo em maior quantidade. Temos que nos preparar para continuar a viver e saber aproveitar o que ainda nos resta, apesar dos altos “custos” exigidos. Continua na próxima postagem...