quinta-feira, 28 de julho de 2022

A habitação na muita idade: morando sozinho – Os ambientes internos

CO-AUTORIA – Arquiteta Cecilia Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo. Continuação da postagem anterior... Os ambientes internos devem ser práticos e funcionais e a personalização levar em conta as necessidades, gostos, hábitos, atividades desenvolvidas e expectativas do morador. Uma pesquisa realizada este ano (2020) indica que os idosos esperam que sua moradia seja acolhedora (aconchego, convivência familiar), segura (abrigo seguro, refúgio), e confortável (tranquilidade, liberdade, descanso, bem estar estético). Abaixo, algumas características desejáveis que espelham as expectativas dos indivíduos de muita idade: 1) De forma geral, os cômodos precisam ser mais amplos para facilitar a mobilidade atual ou futura do idoso bem como as visitas de seus amigos (também idosos) e familiares. Se possível, prever espaço para exercícios, leituras, lazer e outras atividades do usuário. 2) Hoje o idoso precisa de espaço para o seu computador, livros e sua correspondência pessoal. 3) A piscina seria também desejável, se houver possibilidade. 4) Cômodos sem degraus e com portas largas para passarem as cadeiras de roda, macas, andadores e bengalas. O piso não pode ser escorregadio. Escadas não são desejáveis. 5) Os espaços devem ser livres de tapetes e objetos pequenos espalhados (perigo de tropeços e quedas). 6) É desejável que possuam aparelhos de ar condicionado (quente e frio), apoios nos corredores, iluminação no chão à noite para facilitar a mobilidade, acabamentos de fácil limpeza e manutenção. O controle da umidade do ar deve ser previsto. Um ar seco demais ou úmido em excesso não é saudável para o idoso. 7) Os sistemas de comunicação devem ser distribuídos de forma a serem acessados dos locais onde o tempo de permanência do idoso é maior, inclusive o banheiro onde se dá a maior parte das quedas. 8) Se houver possibilidade pensar em espaço para um acompanhante que, talvez, seja necessário mais cedo ou mais tarde. 9) Cuidados na decoração e detalhes para que seja aconchegante e, esteticamente, prazeroso. Não confundir uma moradia com um hospital. 10) São preferíveis móveis e objetos (vasos, bancos, criados mudos, etc.) mais pesados ou presos às paredes para não perderem o equilíbrio e servirem de apoio ao idoso, sem arestas ou quinas perigosas e de fácil manutenção e limpeza. A vulnerabilidade do idoso para quedas, lesões e infecções deve ser considerada. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 21 de julho de 2022

A habitação na muita idade: morando sozinho – Um arquiteto é muito importante

CO-AUTORIA – Arquiteta Cecilia Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo.
Continuação da postagem anterior Encontro-me, agora, numa fase de vida que inspirou o tema deste texto: estou reformando um apartamento em São Paulo com o objetivo de o tornar o meu futuro lar. Preferia uma casa com quintal, o que em São Paulo (Brasil) é quase impossível para uma idosa morar sozinha. Preferia um apartamento com uma grande varanda que pudesse virar quintal, o que também não me é acessível. Mas, sou flexível e talvez possa conseguir um apartamento com muito sol e criar um quintal, dentro do apartamento, perto das janelas. Para esta reforma contei com a ajuda de uma arquiteta e definimos, ambas, o foco dessa reforma: ao final a habitação deveria estar centrada em mim, nas minhas particularidades, não só nos aspectos práticos e funcionais, como nos intangíveis (gostos, preferências, memórias afetivas, costumes, modos de agir, necessidades intrínsecas e outros) com a finalidade de contribuir com o meu bem estar. Afinal, eu sou única, não sou igual a ninguém mais, tenho particularidades só minhas. A participação de um profissional formado em arquitetura é cada vez mais importante, porque a habitação para o idoso é o lugar onde ele passa mais tempo e realiza a maioria de suas atividades. Quanto mais envelhece mais a moradia é o seu lugar para estar e dela depende, cada vez mais, o seu bem estar. Esses profissionais conhecem e têm acesso a muitos recursos técnicos que podem tornar o ambiente da moradia mais confortável, seguro e adequado às necessidades dos idosos. Os projetistas devem considerar que a habitação acompanhará as futuras fases de vida do seu cliente idoso. Em especial na fase de muita idade, a moradia provê a interface da pessoa com o mundo – fato que se tornou ainda mais premente na perspectiva da pandemia do Covid-19. A participação de um profissional arquiteto na programação de um espaço, não só antevê e zela para que as necessidades daquele específico usuário sejam atendidas, mas cuida que também as mudanças possam ser facilmente implementadas, procurando amparar a imprevisibilidade da vida. Na fase de planejamento da moradia, um dos mais importantes fatores para a qualidade da residência é a relação dela com a cidade, familiares e amigos. Ela deve estar localizada em região de fácil acesso às pessoas próximas e importantes, aos serviços, comércio e hospitais de retaguarda e ter boas condições de transporte e mobilidade. A liberdade de ir e vir é fundamental. Outro fator de bem estar é a capacidade da moradia permitir o contato com o sol, a natureza e o ar livre de poluição. Áreas como quintais, jardins ou grandes varandas podem oferecer grandes benefícios ao morador, principalmente para aquele que gosta de jardinagem, hortas, jogos ou outras atividades ao ar livre. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 14 de julho de 2022

A habitação na muita idade: morando sozinho - a moradia individual

CO-AUTORIA – Arquiteta Cecilia Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo.
O que seria ideal para uma moradia de um idoso que goste de morar sozinho? Qualquer habitação serve para ele? O que deve ser garantido na moradia para abrigar um idoso com segurança e bem estar? Ainda é pequena a produção científica que responda a essas questões. A literatura indica a existência de vários tipos de moradia para as pessoas de muita idade, não só governamentais como particulares: os condomínios verticais e horizontais, as vilas ou pequenas comunidades urbanas, as instituições de longa permanência e as moradias individuais. Os condomínios podem abrigar famílias constituídas por várias gerações e que incluem idosos, grupos de idosos partilhando uma unidade, casais independentes e indivíduos idosos morando sozinhos em unidades unipessoais. Os condomínios têm a vantagem de poder contar com vários recursos, de uso comum, muito importantes para os idosos, incluindo academias de ginástica, cinemas, piscina, programações sociais e facilidades para interações entre as várias gerações. Parece haver uma tendência no aumento gradual da moradia unipessoal. Hoje, em São Paulo, cerca de 16% ou 17% de idosos habitam moradias unipessoais e essa porcentagem tende a aumentar. A evolução da saúde, a redução do número de filhos, o aumento do número de divórcios, a melhoria dos comportamentos das pessoas em relação à saúde e o aumento da longevidade são fatores que explicam essa tendência que é consequência de um envelhecimento mais lento, mais ativo e mais saudável. Eu me incluo nesse grupo de idosos que moram sozinhos. Eu tenho 80 anos, tenho boa saúde e boa escolaridade, valorizo muito a minha saúde e, por enquanto, sou autônoma e independente, inclusive financeiramente. Desde os 54 anos, quando minha filha saiu de casa, moro sozinha e gosto disso. Para mim, o morar sozinha é desafiante, sou obrigada a resolver os meus problemas com inteligência e sensatez, sou estimulada a andar, movimentar-me, fazer novas amizades, conversar e trocar ideias com outras pessoas de todas as faixas etárias, sou motivada a manter-me atualizada, atenta aos acontecimentos do meu contexto ampliado e procurar aprender novas atividades e a usar os novos recursos tecnológicos. Gosto da minha privacidade resguardada. Tenho auxílio profissional em relação à limpeza da casa como sempre tive. Acredito que essa modalidade habitacional tem me ajudado a manter a minha saúde e preservado o meu bem-estar e a minha sensação de felicidade. A grande desvantagem deste tipo de moradia é a necessidade de apoio, cada vez mais intenso com o aumento da idade. Então, contornei esta dificuldade, criando uma rede de apoio constituído por vários amigos e conhecidos da geração mais nova que, maravilhosamente generosos, se ofereceram para me ajudar, sempre que necessário. E já me ajudaram muito; levaram-me até ao hospital, acudiram-me numa dificuldade com a rede telefônica e com o meu computador, acompanharam-me várias vezes em viagens curtas para solucionar problemas, participaram da minha mudança de casa, levaram-me de loja em loja para compras mais complicadas e em outras ocasiões similares. Portanto, estou vivendo um envelhecimento ativo o que me propicia um grande bem estar físico, cognitivo, social e emocional. Sou muito feliz; não sinto solidão nem isolamento. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Uma palavra sobre Meditação

ENTREVISTA com Ana Isabel Friedlander, 50 anos, graduada em Comunicação Social, Master Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching e Pratictioner PNL (programação neurolinguística) pela Sociedade Brasileira de PNL. Atualmente, é formadora na área comportamental em Portugal. Dedica-se à meditação há 8 anos. Estudou essa prática com mestres, livros e cursos, como Mingyur Rinpoche, Monja Coen, Mestre Genshô e Jon Kabat-Zinn entre outros. MRF – A meditação está sendo usada como um recurso complementar na saúde. Você poderia dar-nos uma breve síntese da origem dessa prática? AIF - Há aproximadamente 2.500 anos atrás já haviam pessoas que praticavam a observação da própria mente, que ficavam sentadas a respirar profundamente. Meditar é olhar, mas um olhar para dentro e em profundidade. É a observação do seu processo, dos seus pensamentos, das suas emoções, é respirar e estar no momento presente, usada e praticada pelo Budismo. O Mindfulness, ou Atenção Plena, é uma vertente da meditação, difundida em meados dos anos 70, pelo médico Jon Kabat-Zinn, professor emérito da Universidade de Massachusetts. Kabat-Zin retirou-lhe o foco religioso e transformou-a como prática de bem estar e redução do estresse. Em 1979, fundou a Clínica do Estresse dentro do renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology) e desenvolveu inúmeros estudos com a colaboração de importantes instituições (Universidades de Harvard, Yale e Oregon). Os resultados positivos estimularam novos estudos. Atualmente ainda não há unanimidade em sua aceitação como prática terapêutica, mas já está muito difundida. MRF – Quais efeitos a meditação pode desencadear nos praticantes? AIF - Os iniciantes da prática da Atenção Plena, após, mais ou menos, oito semanas, relatam resultados significativos relacionados, principalmente, à redução de ansiedade, maior disposição, melhor capacidade de concentração, redução de dores crônicas, maior controle sobre as reações emocionais e o aumento da produtividade. Os indivíduos de muita idade, começam a ter dificuldade em manter a atenção bem focada e, para eles, esses benefícios são muito importantes para a sua produtividade e concentração. MRF – Quais as maiores dificuldades para se sistematizar a prática da Atenção Plena? AIF - As dificuldades são intensas e a maioria dos pretendentes acaba por desistir. Eu tive algumas dificuldades, tais como, não ter certeza se estava no caminho certo, esquecer de praticar, ter preguiça de começar, justificar com a falta de tempo, achar-me incapaz de manter a concentração, achar difícil criar o hábito e outras da mesma natureza. Comecei e parei várias vezes. Com persistência e após muito trabalho, reflexão, estudo, formações planejadas e busca por conhecimento, consegui sistematizar essa prática e começar a ajudar outras pessoas que gostariam de adotá-la. MRF – Você poderia nos contar como se podem ajudar as pessoas que querem iniciar essa prática? AIF - Essas dificuldades levaram-me a criar um guia ou um método para não esquecer os pontos principais. Esses aspectos podem ser sintetizados por meio do acróstico ROMPER. Essa palavra, em si mesma, já lembra que todas as vezes que queremos quebrar um antigo hábito e instaurar um novo, precisamos empenhar energia e esforço. Romper é a síntese de: regularidade, objetivo, mente, posição, equilíbrio e respiração. Regularidade – essa prática exige uma constância regular; precisamos de tempo todos os dias. Bastam 10 a 20 minutos, sempre no mesmo horário para induzir o hábito. Eu escolhi o período da manhã, logo que acordo. Objetivo – Todos os dias, antes de iniciar, é bom lembrarmos do nosso objetivo; porquê estamos dedicando esses minutos para nós mesmos e o que nós gostaríamos de atingir com isso. A satisfação de ter conseguido dá prazer e o nosso cérebro, possivelmente, reage positivamente. Mente – Nosso foco é organizar e observar a nossa mente, jamais “suprimir” pensamentos. Esse “observar” é sem julgamento, é perceber o que está presente e como nos sentimos em relação a esse conjunto de pensamentos. Eu gosto de pensar que são macacos em uma árvore que saltam de um lado para o outro, estou plenamente atenta ao que acontece nesse instante e vou fazendo com que eles pulem mais devagar e mais harmonicamente e assim eu posso dar atenção às minhas sensações enquanto os macacos se movimentam. Posição – As posições a serem adotadas são as mais variadas possíveis, andando, sentadas ou até deitadas. O importante é não relaxar tanto que durma. O foco é ficar atenta à atenção interna e, não, dormir. Deve manter boa postura, coluna ereta, braços, ombros, cotovelos e pernas confortáveis, evitando pontos de tensão. Experimente! Uma boa experiência, mesmo que não seja exatamente Mindfulness, é tomar banho de olhos fechados, com atenção aos movimentos e à respiração. Equilíbrio – Incluímos nesse método o uso de um dos cinco sentidos (visão, audição, paladar, olfato e tato) para nos ajudar a equilibrar nossas sensações. Recomendo experimentar todos para se conhecer a si próprio e poder escolher o mais apropriado para algumas situações ou momentos ou dias específicos. Pode-se usar a audição escolhendo um som (mantra, canto de pássaro, música, som do vento, das árvores, e outros) e focando nele a atenção. Ao escolher o visual, focamos uma flor, o movimento do mar, uma paisagem e assim por diante. O tato pode auxiliar-nos a manter a atenção focando uma sensação de frio, ou de calor, ou de maciez, etc. Existem muitas alternativas, mas todas devem nos manter no presente, dar equilíbrio, com a respiração adequada e concentrados. Respiração – Aspecto muito importante em qualquer prática meditativa é a respiração. Uma prática simples envolve inspirar e expirar lentamente, prestando atenção nos espaços internos que são preenchidos pelo ar. Coloque a mão abaixo do estômago e, ao inspirar expanda essa musculatura (para encher melhor o pulmão de ar). Ao expirar contraia levemente essa região auxiliando o ar a sair. Repita sem forçar, só atento à entrada e saída do ar. MRF – Quais seriam suas últimas recomendações ou dicas aos iniciantes? AIF – Inicialmente, decida-se por uma prática simples mas consistente, que consiga fazer todos os dias e após alguns dias avalie se lhe foi benéfica ou não. Marque seu horário de preferência, escolha uma posição, um sentido de equilíbrio e experimente a sensação de ficar atento a si mesmo, sem julgar, só respirando de forma calma e profunda. Se precisar, busque uma orientação mais pessoal, principalmente para iniciar e motivar. Em momentos de muita tensão e ansiedade eu uso a meditação como solução. Começo por andar de um lado para o outro, dar voltas em um quarto, caminhando cada vez mais devagar. Respiro consciente e atentamente. Isso controla a minha ansiedade e retorno a um estado de maior calma.