quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

O cérebro precisa de ginástica – Parte IV

Continuação da postagem anterior... No dia 05 de novembro de 2021, a jornalista Ana Pais divulgou uma notícia, inicialmente publicada na BBC News Mundo, sobre as descobertas da neurociência relativas ao impacto da leitura no cérebro humano. Ela faz uma síntese da entrevista e conversa com o médico espanhol e neurobiólogo Francisco Mora que também é autor do livro Neuroeducación y lectura. Esse especialista explica porque a leitura é a grande revolução da educação a qual deve ser fundamentada no funcionamento cerebral. O mesmo afirma que a leitura altera a química, a física, o funcionamento e a anatomia do cérebro humano, mas que o quanto é esse impacto dependerá do texto conseguir despertar a nossa curiosidade e, sobretudo, as emoções. A jornalista inclui em sua síntese alguns pontos importantes abordados pelo cientista ao conversar sobre esse tema. Um dos pontos relevantes é o fato da leitura ser uma habilidade artificial e recente na vida humana; ela só se iniciou há 6 mil anos. Foi necessário o homem usar a fala para modelar o cérebro e torná-lo capaz de aprender a ler. Portanto, para aprender a ler, certas partes do cérebro devem ter amadurecido antes. O autor, consequentemente, defende a aprendizagem formal da leitura aos 7 anos. Outro ponto abordado por Mora refere-se à capacidade do cérebro ser modificado ou modelado devido à sua característica de plasticidade. Ler altera uma parte do cérebro que tem a função de detectar rostos e identificar formas, o que permite processar e construir palavras. Essas alterações expressam-se no comportamento, ou seja, as transformações ocorrem pelo vivido e pelo lido. “Ler não é um ato passivo de absorção do que está escrito em determinado documento ou livro, mas um processo ativo, ou até recreativo (ou criado novamente) em relação ao que está ali.”

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Feliz Natal

O cérebro precisa de ginástica – Parte III

Continuação da postagem anterior... Sabe-se que a aprendizagem é fundamental para a saúde cerebral e a partir desse conhecimento os estudiosos indicam a aprendizagem de, por exemplo, línguas estrangeiras, um novo instrumento musical, iniciar novos cursos, percorrer novos caminhos, manter-se atualizado nas novas tecnologias, viajar para novos destinos, conhecer novas pessoas, participar de novos grupos de amigos, criar oportunidades para novos trabalhos, realizar novas tarefas, criar novos interesses e “hobbies” ou passatempos. Também parece dar resultado a solução de problemas exigindo do cérebro a captação, assimilação e manipulação de novas informações. Os especialistas indicam para manter a saúde cerebral, atividades como: a discussão de novas ideias, a solução de problemas e desafios, a criação artística e a experimentação de estímulos diferentes. A leitura de livros que exijam atenção e memorização é uma das atividades mais recomendadas. Na década de 1990 surgiram as “universidades da terceira idade”, em várias países, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento integral de idosos por meio de um programa de atividades baseado em educação, saúde, esporte, lazer, arte e cultura. Essa iniciativa vem contribuindo significativamente e pode atuar como preditores de uma velhice bem-sucedida. No Brasil já existem várias cidades que contam com esse estilo de instituições, em geral, gratuitas. Um terceiro conjunto de tarefas importantes para a saúde mental é manter o controle de sua própria vida, tomando as principais decisões em todos os setores do cotidiano, ou seja, não abdicar de ter sua opinião própria e escolher como quer viver. Manter uma atividade ocupacional, manter-se “antenado”, atento ao ambiente e à vida moderna, controlar suas finanças e obrigações fiscais, rodear-se do que gosta e fazer aquilo que lhe dá prazer, ou seja, ser senhor de si mesmo. Mas, cuidado!!!! Se a inatividade é desastrosa para o nosso cérebro, a atividade em excesso e sem o repouso adequado, também pode prejudicar a saúde cerebral. Da mesma forma que precisamos controlar o equilíbrio entre a atividade e o repouso físico, a saúde mental depende de uma manutenção cuidadosa e equilibrada. Por esse motivo, um sono saudável em qualidade e quantidade é fundamental. As mudanças repentinas ou sem o pleno acordo do idoso também podem-lhe tirar anos de vida saudável. Aprender significa, na prática, mudar, mexer o cérebro, flexibilizar os neurônios. E aqui estou eu a criar, publicar e manter um blog. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O cérebro precisa de ginástica – Parte II

Continuação da postagem anterior... Diz-se, popularmente que o velho é teimoso, tem pouca flexibilidade, não muda, torna-se empedernido. Possivelmente, seu cérebro está a caminho da “cristalização”; gosta de comer sempre o mesmo, sentar-se na sua poltrona muito usada, sair de casa para ir aos mesmos lugares, ouvir as mesmas músicas, repetir os mesmos caminhos, assistir aos mesmos programas e conversar com as mesmas pessoas sobre os assuntos de sempre. Esta repetição constante de ações e comportamentos impede o cérebro de flexibilizar-se, diminui a plasticidade cerebral. Falta-lhe “ginástica”. Esses achados das pesquisas foram imprescindíveis para aperfeiçoar a maneira como se mantém a saúde mental e como se deve atuar na recuperação de lesões mentais. Seu estudo ainda está longe de estar completo, mas já se pode aplicar e obter benefícios para os seres humanos. Paralelamente, o conhecimento sobre a evolução do indivíduo mostrou que o uso intenso do cérebro, vinte e quatro horas por dia, durante muitos anos, vai desgastando sua vitalidade e harmonia. A rapidez dessa deterioração depende, além das determinações genéticas, dos eventos acidentais de que é vítima, das lesões sofridas, de como suas células são cuidadas durante a vida, dos nutrientes que recebe, dos desafios físicos e mentais que lhe são impostos e das capacidades que lhe são exigidas. As pessoas idosas citam com frequência que se distraem com mais facilidade, têm mais dificuldade em manter o foco em uma atividade, sentem-se com dificuldade em manter a atenção por muito tempo, perdem objetos com mais frequência e têm esquecimentos continuamente. Também estão mais lentas em suas respostas aos estímulos, em assimilar e manipular informações, em aprender novas línguas e outras habilidades, resolver problemas ou interpretar detalhes. Some-se a essas dificuldades o fato dos órgãos dos sentidos também estarem mais lentos e menos sensíveis diminuindo a força dos estímulos. Precisamos oferecer ao nosso cérebro oportunidades para aumentar sua plasticidade com acréscimos de neurônios e de novas sinapses ou conexões perfazendo novos caminhos. O nosso “comando geral” precisa exercitar suas habilidades por meio de mudanças e desafios, precisa mexer-se, fazer “ginástica”. O que não é usado tende a degenerar. A “ginástica” cerebral já está muito divulgada e são inúmeras as experiências com animais e seres humanos que utilizam vários métodos e recursos. O foco principal de qualquer programa de recuperação ou prevenção de problemas deve ser sempre projetado por meio de tarefas ou atividades novas ou modificadas, para o desenvolvimento específico de determinadas habilidades, porque a neuro plasticidade é sempre dependente de aprendizado e treinamento constantes. Esses programas exigem uma dose grande de disciplina, força de vontade e automotivação. A recompensa é o cérebro envelhecer mais lentamente e manter por mais tempo a qualidade de vida. Continua na próxima postagem...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

O cérebro precisa de ginástica – Parte I

Desde muito nova conscientizei-me que o comando geral do meu corpo estava situado dentro da caixa óssea da minha cabeça: o cérebro. A própria natureza tratou o cérebro como um órgão nobre e muito delicado oferecendo-lhe uma proteção óssea, tipo capacete, para protegê-lo. Também lhe ofereceu uma cobertura densa de cabelos para protegê-lo e aumentar a sua sensibilidade. Não é necessário tocar a pele da cabeça para saber que alguma coisa se aproximou; é só tocar num fio de cabelo. Com sua delicada estrutura, órgãos e seus neurônios o cérebro humano comanda o sistema mais complexo do planeta e integra todo esse conjunto por meio de processos e mecanismos extremamente sofisticados. Ele comanda e controla, não só as atividades físicas (voluntárias e involuntárias) como, também, as mentais (memória, aprendizagem, cognição, raciocínio, reflexão e outras). Até à década de 60, os cientistas achavam que o cérebro era uma estrutura estática, inflexível, determinada pela genética, incapaz de se alterar ao longo da vida adulta. Nas décadas de 70 e 80 as pesquisas científicas vieram demonstrar que o cérebro foi construído para mudar em função das atividades e experiências vividas. Ele muda física e quimicamente, a partir da forma como é usado. Novas habilidades ou comportamentos exigem adequações nas conexões neurais que são realizadas por meio de novos neurônios e novas sinapses criando novos “percursos”. Além disso, várias substâncias químicas são produzidas em função das atividades e experiências exigidas do cérebro que, por sua vez produzem novas reações e sensações. Portanto, essas mudanças e adequações provocam alterações na plasticidade do cérebro. É o que, aqui, estamos chamando de “ginástica”, ou atividade mental voluntária realizada para desenvolver essas reações. Ao se executar uma ação mental melhora-se essa capacidade e a própria estrutura do cérebro. É este efeito que explica o fato de aperfeiçoarmos uma habilidade exercendo-a constantemente, praticando exercícios com frequência. Nos bancos escolares exigem-nos a resolução de problemas, a prática de exercícios linguísticos, as leituras e estabelecimento de relações e outras atividades próprias da vida escolar para aprendermos, desenvolvermos potenciais e executar tarefas com maior competência. As mudanças ocorridas pela constância na execução de uma atividade podem reduzir ou melhorar a habilidade ou capacidade. Sempre que uma atividade, um comportamento ou uma atitude é repetido muitas vezes e se torna automático, o cérebro fixa o “percurso” neural que o suporta e vai exigir muito mais esforço para mudar, enrijece-se. Continua na próxima postagem...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Os idosos são teimosos? Como fazer?

(nota da autora - o texto foi elaborado em março/2020, no início da pandemia) Em relação à pandemia da Covid-19 (novo coronavirus) tenho ouvido dizer, com frequência, que os idosos são teimosos e não gostam de obedecer. Queria lembrar a todos que os idosos estão há muitos e muitos anos a decidir o que querem ou devem fazer e a terem sucesso nessas decisões. Eles, são os indivíduos que foram capazes de sobreviver a todas as dificuldades, desastres, bloqueios, amarguras, infelicidades, tragédias e perigos durante toda a sua vida; salvaram-se a si e à sua família porque tomaram as decisões corretas, durante anos e anos. Por isso, eles acreditam na força das suas maneiras de fazer. Eles não são teimosos, eles, simplesmente não são capazes de, com a rapidez que está sendo exigida, atualmente, processar as informações, assimilar os novos conhecimentos e alterar todas as rotinas, hábitos e maneiras de agir enraizadas em seus cérebros. Seus cérebros estão condicionados, e menos flexíveis e é este condicionamento cerebral que os impede de aceitar alterações rápidas de comportamento. Alguns deles estão atordoados com tantas informações, ora verdadeiras, ora falsas, ora incompreensíveis, ora apavorantes. O medo se instala com rapidez e o mais fácil é negar, pensar que todos estão loucos, que falta tranquilidade e sensatez nos outros. Muitos nem chegam a compreender todas estas iniciativas que as lideranças governamentais estão tomando e todo o espalhafatoso aparato que esta pandemia está exigindo. Instala-se, muitas vezes, o pavor, o pânico. Eu estou nesse grupo, tenho 79 anos, moro sozinha, cada informação que recebo sinto como uma pancada, tenho que parar, refletir e pensar. Tenho que perguntar muitas coisas para outras pessoas. Levo mais tempo a responder 10 vezes por dia, às perguntas que faço a mim mesma: E, agora? O que posso fazer? Como me comportar? Como agir? Se os mais novos compreenderem estes aspectos poderão ajudar os seus queridos e amigos idosos e contribuir com a vitória esperada por todos. Eles precisam de ajuda para pensar. É necessário que expliquem aos idosos com tranquilidade, carinho e muita paciência que estamos enfrentando uma guerra universal contra um inimigo desconhecido que pode matar muita gente. Tem que ser muitas vezes repetida a ideia de que só temos alguma chance de vitória se fugirmos e nos esconder do inimigo, nos isolando de todas as pessoas que podem estar com ele nas mãos e nas superfícies em que tocam. A casa é o nosso maior refúgio. E, se não colaborarem colocam a vida de muitas pessoas em risco, inclusive seus descendentes, amores, conhecidos e amigos. Só com o isolamento e a união poderemos ultrapassar esta tragédia. Eles precisam dar o exemplo e ajudar a comunidade. Precisamos deles para isso. Os mais novos devem ajudar pacientemente o idoso a planejar sua vida, suas novas rotinas, seus novos entretenimentos e seus novos cuidados para a saúde, nos mínimos detalhes. Lembrar de selecionar as informações, usar técnicas de relaxamento, utilizar horários alternativos, reduzir o sedentarismo, aceitar alimentos diferentes, valorizar a hidratação e fortalecer a imunidade. Para o mais novo é muito mais fácil mudar, aperfeiçoar a generosidade, usar de criatividade, aceitar as diferenças e adequar as atitudes ao novo mundo que está surgindo. E tem que escutar os mais velhos, tem que respeitar suas considerações, sua inteligência, sua experiência e seu conhecimento, tem que lhes demonstrar amor, interesse e companheirismo. Eles também podem ter boas ideias. Os mais novos têm também que fazer o esforço necessário, fazer a sua parte e lembrar que impaciência e irritação são sentidas pelo idoso como violência. Não podem esquecer que brincadeiras, gozações e piadas só são éticas e adequadas quando os dois lados se divertem; caso contrário podem machucar. Eu preciso de compreensão, respeito e carinho; e não de autoritarismo e arrogância. No final, vamos todos aprender muito e, talvez, nos tornarmos melhores.