CO-AUTORIA – Arquiteta Cecília Lourenço Góes, 36 anos, graduada pela Universidade de São Paulo, com 13 anos de experiência na área. Trabalha em projetos residenciais, institucionais e públicos no escritório MGóes Arquitetura e Design, em São Paulo.
Salamandra em ferro, portuguesa, do início do Séc. XX |
O que seria ideal para uma moradia de um idoso que goste de morar sozinho? Qualquer habitação serve para ele? O que deve ser garantido na moradia para abrigar um idoso com segurança e bem estar? Ainda é pequena a produção científica que responda a essas questões.
A literatura indica a existência de vários tipos de moradia para as pessoas de muita idade, não só governamentais como particulares: os condomínios verticais e horizontais, as vilas ou pequenas comunidades urbanas, as instituições de longa permanência e as moradias individuais.
Os condomínios podem abrigar famílias constituídas por várias gerações e que incluem idosos, grupos de idosos partilhando uma unidade, casais independentes e indivíduos idosos morando sozinhos em unidades unipessoais. Os condomínios têm a vantagem de poder contar com vários recursos, de uso comum, muito importantes para os idosos, incluindo academias de ginástica, cinemas, piscina, programações sociais e facilidades para interações entre as várias gerações.
Parece haver uma tendência no aumento gradual da moradia unipessoal. Hoje, em São Paulo, cerca de 16% ou 17% de idosos habitam moradias unipessoais e essa porcentagem tende a aumentar. A evolução da saúde, a redução do número de filhos, o aumento do número de divórcios, a melhoria dos comportamentos das pessoas em relação à saúde e o aumento da longevidade são fatores que explicam essa tendência que é consequência de um envelhecimento mais lento, mais ativo e mais saudável. Eu me incluo nesse grupo de idosos que moram sozinhos.
Eu tenho 78 anos, tenho boa saúde e boa escolaridade, valorizo muito a minha saúde e, por enquanto, sou autônoma e independente, inclusive financeiramente. Desde os 54 anos, quando minha filha saiu de casa, moro sozinha e gosto disso. Para mim, o morar sozinha é desafiante, sou obrigada a resolver os meus problemas com inteligência e sensatez, sou estimulada a andar, movimentar-me, fazer novas amizades, conversar e trocar ideias com outras pessoas de todas as faixas etárias, sou motivada a manter-me atualizada, atenta aos acontecimentos do meu contexto ampliado e procurar aprender novas atividades e a usar os novos recursos tecnológicos. Gosto da minha privacidade resguardada. Tenho auxílio profissional em relação à limpeza da casa como sempre tive. Acredito que essa modalidade habitacional tem me ajudado a manter a minha saúde e preservado o meu bem-estar e a minha sensação de felicidade.
A grande desvantagem deste tipo de moradia é a necessidade de apoio, cada vez mais intenso com o aumento da idade. Então, contornei esta dificuldade, criando uma rede de apoio constituído por vários amigos e conhecidos da geração mais nova que, maravilhosamente generosos, se ofereceram para me ajudar sempre que necessário. E já me ajudaram muito; levaram-me até ao hospital, acudiram-me numa dificuldade com a rede telefônica e com o meu computador, acompanharam-me várias vezes em viagens curtas para solucionar problemas, levaram-me de loja em loja para compras mais complicadas e em outras ocasiões similares. Portanto, estou vivendo um envelhecimento ativo o que me propicia um grande bem estar físico, cognitivo, social e emocional. Sou muito feliz; não sinto solidão nem isolamento.
Continua na próxima postagem...